Wednesday, February 08, 2006

Entrevista com Pedro Demo- 2ª parte







Jussara Midlej- Ipiaú- BA:
Obrigada, professor. Pesquiso acerca do cotidiano de professores das séries iniciais da educação básica e há muito vejo "que a vítima sequer chega à consciência de que é vítima" (DEMO, 1996, p. 27) e prossegue reclamando porque sente, mas com dificuldades de reagir, porque ainda não sabe! A ignorância, o mal maior... Vislumbro "fissuras" no trabalho com o Teatro do Oprimido, começo a pensar em possibilidades de reação por aí... Gostaria de vê-lo abordar a questão do Curso Normal Superior à ótica da Lei e do ordinário da vida "professoral". Obrigada pela atenção.
Vc acredita que o Teatro do Oprimido, de Boal, poderá desencadear um processo de reflexão que supere, sem ignorar, as dificuldades de reação dos professores? A experiência cotidiana destes profissionais, refletida, poderá desencadear uma reação à manipulação?Uma ampliação das possibilidades de diminuir ou, até mesmo dirimir, a pobreza política? Valiosa, essa interlocução!

Pedro Demo:
A proposta do Normal Superior está sendo muit deturpada, porque representa, em muitos casos, uma via encurtada para ganha dinheiro com ensino superior. O professor não pode ser encurtado. Precisa de formação imponente, completa e sermpe renovada. Quanto ao teatro, é recurso importante de conscientização, desde o gregos. Portanto é algo que possui muito boa argumentação. Pode ser mal feito, mas isto é outro assunto. O professor precisa desconstruir sua prática, para renascer.
Sidney Pires- São Paulo:
Professor:
Uma grande educadora sempre dizia: "Educar é amar, pois somente o amor pode educar os filhos de Deus". Pergunto: existe alguma obra que, na sua opinião, deveria ser livro de cabeceira nos cursos de formação ao professorado por abordar a temática pedagógica, segundo a ótica da educadora citada?
Pedro Demo:
Não cito uma obra, mas cito Sócrates - a proposta dele, maiêutica, ainda é a mais iluminada. Entretanto, educar não é somente amar - alguém poderia, em tese, amar loucamente o aluno e assim mesmo continuar analfabeto. Não é o caso simplificar as coisas. Para que o aluno aprenda bem, o professor, além de compromisso, precisa também de competência.
Arlete Castro- Lisboa
Professor, vamos falar de lingua portuguesa. Moro em Portugal há muitos anos, mas sou brasileira. Noto desde o principio, que a maioria dos portugueses não consideram que os brasileiros falem um "bom" Português. Qual a sua visão das diferenças entre o Portugues falado no Brasil e o Português falado em Portugal. Nota: Dou aulas de Português aqui e nem sempre tem sido fácil a minha jornada, justamente devido a essas diferenças. Arlete Castro
Pedro Demo:
Esta é uma querela pouco útil, porque cada povo fala como lhe convém; nem somos paradigma para eles, nem eles são para nós. Ocorre que, no Brasil, fala-se muito mal português, em boa medida porque a aprendizagem escolar é miserável. Leitura rala, sem pesquisa e sem elaboração, os alunos vão para a vida sem texto próprio, sem condições de autoria. Segundo o INAF (Índice nacional de alfabetismo funcional -www.ipm.org.br) apenas 25% da população adulta maneja português de maneira adequada (matemática só 20%).
Anna D'Castro- Rio de Janeiro/RJ
Professor!Aproveito eu agora para fazer uma pergunta inversa à da Arlete,ligada com a língua portuguesa falada em Portugal e a língua portuguesa,com construção brasileira,falada no Brasil. Eu que sou portuguesa de Lisboa,e moro no Brasil-Rio de Janeiro. Sou escritora e dei aulas de português no ensino primário em Portugal e aqui tive que "aprender" a lidar c/a língua falada e escrita, q/tbém não é nada fácil.O Brasil é um país de várias introduções "liguísticas" coadunadas com o português,por isso a aglutinação dos"estrangeirismos",o q/na m/opinião é absolutamente normal. Partindo do pressuposto q/a verdadeira construção latina do português se fala e se escreve em Portugal. Porque não é criada a língua BRASILEIRA?Não seria muito mais louvável,essa solução,em vez de tentar criar só uma equiparação?
Pedro Demo:
Não é preciso criar a língua brasileira, porque forma-se normalmente na história. É apenas questão de tempo, assim como creio ser apenas questão de tempo que surjam em diversas regiões conotaçõespróprias da língua (dialetos).
Talvani Guedes da Fonseca- Natal:
Investimento na Universidade
Mestre, acaba de chegar no congresso uma proposta do governo petista que é um verdadeiro atraso: Limita o investimento externo nas universidades brasileiras a 30%, coloca para escanteio o desenvolvimento tecnológico com prejuízo para pesquisa nacional, sem falar no desprezo às questões de mérito.Que dizes?
Pedro Demo:
Não vi isso e por isso abastenho-me de me pronunciar. Se ocorreu mesmo isso, sua crítica faz sentido.

Tuesday, February 07, 2006

Entrevista com Pedro Demo- 1ª parte-




Como tudo começou


No dia 03/02/06, Pedro Demo esteve em Itaperuna para uma palestra com professores. Eu estava presente e no final, entreguei para ele uma carta convidando para uma entrevista na comunidade Discutindo Literatura.Recebi a resposta da carta. Ele enviou por e mail.
A resposta:
Luciana:
Li sua carta e entendi seu pedido. Quero lhe desejar bom sucesso, pois vejo-a comprometida com leitura da maneira mais brilhante possível. Parabéns. Posso fazer a entrevista. Quanto a entrar no ORKUT, ainda não o fiz, porque o ambiente poderia ser difícil para mim, por conta da exposição excessiva. Por enquanto, não gostaria. Grande abraço. Pedro Demo.
A entrevista foi realizada na comunidade Discutindo Literatura, no orkut, com início no dia 06/02/06.
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=3332336&tid=2446342620812795555&na=4&nst=0&nid=3332336-2446342620812795555-2446464469034983075
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Sobre Pedro Demo:
Nasceu em Pedras Grandes, Santa Catarina, em 1941, de pais agricultores (viticultores), onde fez a escola primária. Com nove anos entrou no Seminário dos Franciscanos em Rodeio, SC, e depois em Rio Negro, PR, para, a seguir, cursar até ao segundo grau em Agudos, SP (até 1960). Cursou Filosofia na Faculdade dos Franciscanos, Curitiba, 1961-1963. Três anos de Teologia em Petrópolis e estudo de Música, 1964-1966. Doutoramento em Sociologia, Alemanha, 1967-71. Defesa de tese a 28.01.71. Nota máxima, premiada, publicada em alemão em 1973, na Editora Anton Hain, Meisenheim (Herrschaft und Geschichte – Zur politischen Gesellschaftstheorie Freyers und Marcuses). Pós-doutoramentos na Universität Erlangen-Nürnberg (Nürnberg) (Alemanha), março a junho de 1983, com Prof. H.-A. Steger, e na University of California at Los Angeles (UCLA), agosto de 1999 a abril de 2000, com Prof. Carlos A. Torres.
Maiores informações no Blog do autor.
A entrevista:
1- Jussara Midlej- Ipiaú- BA
Excelente iniciativa em entrevistar Pedro Demo, Luciana!
Questões:
A consciência ingênua do brasileiro é fruto da pobreza sócio-econômica? Essa pobreza política brasileira tem cura? De que modo a pesquisa-ação poderá ampliar as possibilidades de intervenção no fenômeno social?
Pedro Demo:
As pessoas não são imbecis, mas podem ser imbecilizadas. Esta ignorância cultivada é o que chamo de pobreza política, que não é outra pobreza, mas outra face da mesma miséria. É a condição de massade manobra, a inabilidade de se confrontar com a exclusão na posiçãode sujeito.
2- Luciana Pessanha Pires- Itaperuna- RJ
Pedro, li um fragmento de uma entrevista sua no site http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0035.asp"Um dos exemplos que o senhor dá para desmistificar a importância da aula é o livro O Mundo de Sofia, de Jostein Gaardner. Por que um livro como esse consegue instigar o aluno a aprender e a aula expositiva não?
Pedro Demo - Nós podemos trabalhar muito melhor também só com textos. Geralmente, no Brasil, só se faz fichar livros, o que não tem nada de reconstrutivo. E O Mundo de Sofia mostra bem como um professor "escondido" motiva, provoca a criança. Ela se desespera, trabalha, dá duro, aprende muita coisa sem que o livro tenha uma aula, uma prova, e é uma aprendizagem soberba. Então, a escola tem que cuidar da aprendizagem e não dos apoios que os professores acham importantes, em particular ficar “escondido” atrás da aula."
Minhas perguntas:
Que sugestões daria para um professor que quer formar alunos leitores? Por que a resistência com a leitura? Que estratégias sugere para as aulas de Literatura?
Pedro Demo:
Não é necessário acabar com a aula. Critico acerbamente a aula instrucionista. Sócrates, considerado por muito o maior educador detodos os tempos, nunca deu aula e passou prova...
3- Vera Vilela- Penápolis-SP, residente em Bauru
Você concorda com o sistema de criação de cotas para acesso às faculdades? Acha o melhor caminho? Que outros caminhos poderiam existir?
Pedro Demo:
Não concordo com os critérios de seleção -sugeriria que o critério fosse ter sido aluno de escola pública. Mas é importante que as minorias tenham oportunidade, já.
4- Luciana Pessanha Pires- Itaperuna- RJ
Outras perguntas, Mestre:
Que política de leitura deveria ser implantada pelos nossos Governos?Como a escola deve trabalhar as múltiplas linguagens?Que mudanças devem ser feitas durante a alfabetização no diz respeito ao ensino da leitura da imagem?
Pedro, o que seria uma política social do conhecimento, tipicamente emancipatória e pós-moderna?
Pode falar sobre suas considerações a respeito da obra de Maturana sobre a “autopoiesis”?
Pedro Demo:
Muita coisa pode ser feita, desde acesso mais barato e facilitado a livros, presença de bibliotecas em todas as escolas, acesso virtual(base de computadores nas escolas), além de eventos que fomentem a leitura. Lê-se muita coisa no país, mas em geral de estilo mais fútil, além do que a escola mantém uma linguagem antiquada.
5- Talvani Guedes da Fonseca- Natal - Rio Grande do Norte
Pode nos falar acerca da oportunidade da pedagogia da libertação, de Paulo Freire?
Pedro Demo:
Ainda está em alta... O oprimido que não sabe confrontar-se, adota o opressor.

6- Maria Antonia Soares- Presidente Venceslau- SP
Questionamento sobre o curso Normal Superior...
Desde que foi promulgada a nova LDB as Instituições de Ensino Superior que procuraram se adequar a ela abriram o curso Normal Superior. Qual não foi a surpresa ao ser informada pelo MEC que este curso foi extinto, prevalecendo como curso formador para o Magistério das Séries Iniciais o curso de Pedagogia, tão desprestigiado nestes últimos anos. Em algumas IES o Normal Superior foi iniciado em 2005 e até em 2006.Como o senhor explica esta incoerência, de aprovar cursos com a finalidade de atender a LDB para fechá-los em seguida?Agradeço sua atenção para o meu questionamento.
Pedro Demo:
A idéia já nasceu torta, porque encurtada. Como o professor é o representante mais lídimo da sociedade do conhecimento, não pode andar de conhecimento curto...
7- Rodrigo Romeiro- RJ
Bem, a princípio gostaria de dizer que fui prof. do Estado, na época do 2º Programa Especial de Educação do governo do ex-governador Brizola. Isso por volta de 1994. Era o programa que atendia aos CIEPS e que foi muito criticado pelo pessoal da SEE. Bom, como sei que Pedro Demo fez parte desse programa, gostaria de perguntar se esse programa sobrevive, de alguma forma, ainda na rede. Digo a filosofia que que embasava o programa. E também se esse brilhante pesquisador concorda com o rumo que o Estado do Rio tem dado à Educação pública. Obrigado.
Pedro Demo:
Não me recordo de ter feito parte. Trabalhei bastante no tempo da Lia como Secretária de Educação do Estado. De modo geral, a aprendizagem está em queda, no país todo e também no Rio. Há infindos problemas aí implicados, de fora e de dentro da escola. A direção que temos hoje está muito equivocada. Se continuarmos fazendo na sala de aula o que estamos acostumados a fazer, vamos ladeira abaixo. É preciso parar e repensar radicalmente, em particular cuidar que o aluno aprenda. Mais ainda: garantir a alfabetização na 1a série.

Eu passarim






Lendo os poemas de Mario Quintana e sua linguagem sem enigmas conteudísticos ou inflorescências herméticas, penso na possibidade de enxergar a vida do ponto de vista da pureza e da concisão expressivas "bebendo a milenar inquietação do mundo!"
Poeminha do Contra
Todos esses
que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!
Passar pela vida numa tecitura leve, sem ódios, ressentimentos, sentimentos que só nos trazem dores. Façamos como o poeta:
DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites,
por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana - Espelho Mágico

Façamos como Quintana, se alguém vem com pedras , vamos responder às reiteradas recusas com os versos do Poeminha do Contra: "Todos estes que aí estão/ Atravancando o meu caminho,/ Eles passarão. / Eu passarinho!"
E façamos caminho!
"Meu caminho é cada manhã" E o seu?

Wednesday, February 01, 2006

Poema de Manuel Bandeira

Poema dedicado a Itaperuna:

ODE AO CAFÉ


Primeiro houve entradas p'ra pegar índio
Entradas pra descobrir o ouro.
Agora há entradas pra plantar café.
Um dia trouxeram da Martinica um soldadinho verde.
O soldadinho juntou-se com a mulata roxa
E nasceu um exército de soldadinhos vermelhos.
Os batalhões alinharam-se
Marcha soldado,
Pé de café!
E tomaram de assalto as baixadas,
as lombas,as faldas e os contrafortes até o planalto.

Do meio dêles- De estrêla, boa estrela -
Saiu o maior soldado brasileiro.
Onde acampavam
Havia riqueza:
Colares, trapiches,
Estradas reais calçadas com pedra,
Resendes, Valenças, Vassouras,
Os tejucos do café,
Com linhagem de barões estadistas
que formaram gabinetes

e deram lustres aos bailes do segundo império.
Mas o amor do soldado derreja a mulata,
Marcha soldado,
Pé de café!
Soldado gosta de mulher nova:
Araçatubas de peito duro...
I taperuna de maiô preto...
Itaperuna!
Ponta de trilho da civilização cafeeira!
Criação republicana e brasileira!
Único município que não aderiu:
Porque era republicano antes da República.
Ora esta, eu agora me esqueci que não sou republicano.
Ponhamos: Itaperuna exceção republicana!
Desta república de paulistas e baianos,
Paulistas de Macaé!
Marcha soldado,
Pé de café!
Qual onda verde nada
Batalhão é que é.
Batalhão da república militarista.
Itaperuna exceção republicana!
Itaperuna pacífica das pequenas propriedades
Das quatro mil oitocentas e seis
pequenas propriedades registradas
Com os seus oito milhões de arrobas.
Terra de José de Lanes,
Bandeirantes sem crimes na consciência.
Itaperuna sem Rio das Mortes nem Mata da Traição.
(Exceção republicana!)
Vértice norte do triângulo Itaperuna. Araçatuba, Paranapanema,
Onde estão acampanhados os batalhões de café.
Marcha soldado,
Se não marchar direito
O Brasil não fica em pé

Minha Itaperuna





A primeira Impressão
"Que copadas e frondosas árvores de robustos e corpulentos troncos! Que fecundos terrenos! Que vargerias! Que abundância de madeiras preciosas e de construções! Que perspectiva agradável representa o rio.Tudo finalmente, oferece uma face risonha. Como convidado os homens à cultura de terrenos tão produtivos".

Antônio Muniz de Souza

Esta foi a exclamação de Antônio Muniz de Souza quando em fevereiro de 1828 subiu de canoa o rio Paraíba e avistou as belezas naturais de uma terra que ficaria conhecida como a "Nova Terra da Promissão", uma alusão à promessa de Deus ao povo eleito. O desbravamento da região deu-se por meio do mineiro José de Lanes Dantas Brandão por volta do ano de 1840 ao fundar a Fazenda do Limoeiro a quatro quilômetros da atual cidade de Itaperuna. A denominação "Itaperuna" foi escolha do Dr. Francisco Portella que como médico da Prefeitura de Campos e depois presidente da Estrada de Ferro Carangola tinha contato com a região desde 1871. O nome "Ita” em tupi-guarani significa pedra, “una” preta, “per” caminho; o que vem a ser o Caminho da Pedra Preta. Outra versão da origem do nome diz: - i-taipiira-una (anta preta, com o "i" provavelmente eufônico) que significa "O Lugar da Anta Preta".Em 24 de novembro de 1885 por decreto de nº 2.810, eleva a freguesia de Nossa Senhora da Natividade de Carangola (um dos primeiros nomes da cidade) à categoria de Vila de Itaperuna. Outro fato marcante na história da cidade acorreu em 1889 quando o então Presidente da Província, Conselheiro José Bento Araújo autorizou a eleição da primeira Câmara Municipal em 10 de maio, ou seja, seis meses antes do Marechal Deodoro jogar por terra a monarquia agonizante. A cultura cafeeira foi um grande destaque na economia da cidade por mais de quatro décadas, tornando-a em 1927 a maior produtora nacional. Mas a crise do café nas décadas de 20 e 30 levou os produtores ao desenvolvimento de uma agricultura variada, pecuária, indústria e o comércio. Hoje passados mais de cem anos de sua fundação, o município é destaque como um dos maiores pólos comerciais e pecuários da região noroeste do Estado do Rio de Janeiro e estados vizinhos como Minas Gerais e Espírito Santo. E a cada passo empreendido, temos a certeza de caminharmos rumo a Terra da Promissão.

http://geocities.yahoo.com.br/alexrsoares/psic_itaperuna.html
Crédito das fotos: maestro, compositor e arranjador José Carlos Ligiéro que recentemente recebeu o prêmio Golfinho de Ouro na categoria Preservação do Patrimônio cultural.