Wednesday, April 26, 2006

Convite para o sarau "Café, Música e Poesia"


Reza a Declaração Universal dos Direitos do Homem que "todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar de progresso científico e de seus benefícios”.
Estou muito feliz com esse projeto. percebo que todos os envolvidos também estão.
Participação especial:
Dr. Pedro Lyra, da UENF, o Professor e Produtor Cultural Nilton Alves, representando a Secretaria Estadual de Educação, o Escritor e Poeta Nel Meirelles, a Psicanalista e Poeta Fernanda Maria de Almeida Prado, filha do Drº Antônio Lázaro de Almeida Prado, Jornalista, Poeta e Professor Emérito da UNESP, a Empresária e Educadora Maria Antonia Soares, o Ator, Produtor Cultural e Poeta Artur Gomes.
Intercãmbio Cultural com os alunos de Literatura Infanto-Juvenil do Curso de Letras e com os alunos do Curso de Matemática da UNIG; com os alunos de Letras e de Jornalismo da Fundação Educacional e Cultural São José.

Durante três meses os alunos desenvolveram tarefas com os professores na sala de aula, dentro de uma proposta pedagógica com interface entre História (profª. Anádia Salles), Português (profª. Marina Caraline e profª. Luciana Pessanha Pires), Matemática (profª. Lúcia Rodrigues), Língua Inglesa (profª. Emília Santos), Geografia (profª. Luciana Gomes).
O projeto in foco foi desenvolvido através de variadas atividades como: pesquisa sobre a história do café no Município de Itaperuna, construindo maquetes, assistindo a filme, participando da Roda de Leitura em Homenagem aos poetas Mário Quintana ( pelo centenário) e Manuel Bandeira ( pelos 120 anos do seu nascimento), lendo livros de poesia, dramatizando poemas, fazendo leitura da tela de Cândido Portinari –O lavrador de Café, produzindo textos poéticos, pesquisando e coletando dados durante visita à Indústria de Torrefação Café Luana, assim como durante visita a Santa Clara, Distrito de Porciúncula, no Sítio São Cipriano, dos proprietários Cláudia Jussara Campos, Rosa Andréia Campos e Maria Madalena Campos. Neste local, os alunos conheceram lavouras de café e a coleção de objetos antigos de Kleber Veloso Campos, remontando a época de 1889 até 1902.Também participaram de palestras com os acadêmicos Carlos Braga, Maurício Cardoso Faria e Valber Meirelles e de oficinas de arte com os artistas da Cia de Arte Damadá.

Tuesday, April 25, 2006

Dia Internacional do Café - Passeio Cultural
















Foi uma alegria a visita ao Café Luana hoje. Os alunos do Colégio Estadual Rotary conheceram todo o processo de tratamento dado ao café até chegar à nossa mesa. Eu estava lá, é claro!

E arriscaram uns poemas:

"Café
vício mulato
cheiroso e gostoso
a planta
dor
dos escravos".
( Kelly Cristina-1º ano do EM)
............

"Ouro negro
Onde debruça
Meu país"
(Josimar Dias Mota- 1º ano do EM)
..........


Da flor ao café do bule

Só quem viu pode contar
dizem que coisa igual não há.
verde coberto de branco
parece noiva pronta pra casar

E na hora da colheita
o negro deu azar
de uma derriça bem feita
o cafezal não pode escapar

derriça, ensaca, peneira
tá na hora de torrar
logo depois
um fino pó vai virar

Coloca água no fogo
um café vamos tomar
que é pra aquecer a alma
e o corpo esquentar.
(Luciene da Silva Galosa Gouveia- 1º ano do EM)
..........
"O que é o café, afinal?
um pequeno fruto vermelho
de polpa fina e adocicada
bebida delicada
embalando histórias amargas."
(Camila de Oliveira Santana- 1º ano do EM)
..........

"Virou ritual
nosso negro brasileiro
torrado e moído
querido no mundo inteiro."
(Josimar Dias Mota- 1º ano do EM)
.........
Ontem
negros torturados nos cafezais
hoje a vida não escolhe a cor
a vida nossa de hoje
um cata-vento
roubando
asas."
(Luiz Carlos- 1º ano do EM)
.........
"Café plantado
sem certeza de brotar
no dia da colheita
suave cantarolar

Café chegando
o sono sai devagar
o dia vai esticando
a língua a desatar."
(Jefferson F. de Melo- 2º ano do EM)
.............
"Café
doce aroma que invade
minha casa pela manhã
sou refém do seu sabor"
(Matheus- 3º ano do EM)
.........

Itaperuna e o café

Sob o sol nascente
lá vem o rio Muriaé
descendo sempre em correntes
mostrando o que ele é.

Passando por pedra preta
cidade abençoada
sendo assim sua realeza
nesta terra exaltada!

Grande produtividade
neste vale se pode encontrar
pecuária e agricultura
felicidade vem nos dar.

Na nossa Itaperuna querida
de homens de muita fé
abençoada é nossa vida
com muitos pés de café.

Além do pão e do leite
sevido na mesa bem quente
vem das grandes plantações
café da lida da gente.
(Mayara- 3º ano do EM)
............

Saturday, April 22, 2006

Rastros




Rastros

Há rastros
sussurrando
nas
sondas


cápsulas
presas à luz


caminhos
não saciados
lavando
desejos inquietos

Thursday, April 20, 2006

Erotismo e arte





O mais antigo texto sobre erotismo que já foi publicado é o "Banquete de Platão".







O erotismo está presente na literatura da antigüidade até nossos dias. Sua manifestação se dá segundo determinado meio social concebe, de forma predominante, o corpo. Mesmo nos períodos de forte repressão, como a chamada Idade Média européia, em que aprendemos ter sido de predomínio da igreja católica, houve significativa manifestação do erotismo. Por exemplo, as cantigas de escárnio e maldizer portuguesas são alguns testemunhos de transgressão do moralismo dominante naquele período.

Neste Lençol, de Moacyr Félix

Neste lençol
as noites feitas de mulher e homem....
Neste lençol
a coragem de viver encontra o pasto
Verde para sua boca de amarguras....
Neste lençol
aquele impulso de me gastar-me todo....
Neste lençol as unhas eram sábias e sabiam
Acupunturas capazes de sonar os nervos....
Neste lençol, eu e você
_ metades se desfazendo
em inteirezas de ser.
............................
Traiçoeiros laços

Gosto
Quando os olhos
Do meu amado
Se turvam
E meu corpo
Desaba em desejos
Gosto
Quando minha pele
Restaura-se inteira
E arma laços
Traiçoeiros laços
Nos seus abraços
Gosto
Quando meu amado
Em meu peito
Desarma pudores
E me faço mansa
Serena,refeita
Noite adentro.
(Luciana Pessanha Pires)

Wednesday, April 19, 2006

Poesia e Música- projeto



















Ontem, Valber Meirelles, Presidente da Academia Itaperunense de Letras, professor, empresário, visitou o Colégio Estadual Rotary, encerrando assim o ciclo de palestras sobre Poesia. Valber falou sobre Poesia e Música. Foi um momento de descontração. Aprender com prazer é muito bom. Percebi como os alunos ficam entusiasmados, participam, a disciplina melhora.
Estou feliz com esse projeto. Agora haverá outro ciclo: oficinas de arte.
Será uma delícia!

Tuesday, April 18, 2006

O indígena brasileiro



O seu olhar

cauré

dança

tangará curumim

no meu olhar acauã

caru-sacaibê.

.............

Esse poema

frevo

desejo

cheira a canela

liberta qualquer grabriela

é coco de tucumã

é jaguar

é pajé

é contagem

de inhambu

ninho de vespas

uirapuru

...........

O indígena brasileiro, foi o elemento essencial na construção deste país.
















A Cor da Cultura


negros africanos
traficados
para lavourar
as fazendas de café
brincam em volta de fogueiras

tambores
a noite inteira

canto querendo
o desvendar do ponto
e danças de umbigada

negro batizado no eito
jongo, capoeira e maracatu
samba-de-roda
no tambor-de-crioula
na pernada
no lundu

há balaios de alqueires
e peneiras rasas de abanar
terra limpa e ciscada

os cafeeiros estão vermelhos
galhos e tulhas na fartura

a carga é de vergar

as bagas
transbordam
e lá se vai apanhação

nos caminhos dos cafezais
do alto das colinas
até às secadeiras
os grãos de café
às costas nos cestos
de vime ou de bambú

ô negro
arruma a safra do dia
que amanhã
o café está bem seco
no terreiro banhado de sol
e você volta a gingar

reis, ditadores, feitores
quem pode lhe segurar

levanta o grito
da cuíca e do berimbau
na pancada do ganzá.
(Luciana Pessanha Pires- 17/04/06- 23h)

Monday, April 17, 2006

A Gratuidade da Poesia





Projeto "Café, Música e Poesia"
Hoje pela manhã Maurício Cardoso Faria visitou o Colégio Estadual Rotary. Ministrou uma palestra sobre o tema "A Gratuidade da Poesia".
Maurício é professor, Presidente emérito da Academia Itaperunense de Letras.
Meus alunos do Ensino Médio ficaram encantados com os poemas de Maurício. No final, após sorteio, dois alunos receberam um exemplar do livro Igarapés- 100 trovas escolhidas e 100 sonetos inéditos, de autoria do palestrante.

"Minha trova é frágil fio
com que teço o amor e a fé:
não tendo o aprumo de um rio,
faz-se humilde igarapé."
..........................
Concerto

não é um canto coral
mas poetas em vigília
ouvindo a flauta doce
das estrelas
e regendo
os últimos resíduos da esperança.
(Maurício Cardoso Faria)

Saturday, April 15, 2006

Reflexões sobre a existência humana

Essas são minhas revistas preferidas.
A soma de várias leituras, aliadas às experiências coditianas permitem um olhar mais apurado.
Estamos, vez ou outra, envolvidos em reflexões sobre a natureza humana. Rachel de Queiroz narra o drama da seca em seu romance O Quinze e ali encontramos o gosto amargo da vida. O personagem Chico Bento às voltas com a marcha dos retirantes nordestinos, ao lado de sua mulher Cordulina: cabelos ao rosto, a pele empretecida como uma casca, a saia roída, os ossos aparecendo... Um retrato triste da miséria.
É comum observarmos na literatura engajada a denúncia dos problemas sociais. Letras de músicas também cumprem esse papel. É um desejo de dar à vida humana a dignidade que ela deve ter.
Vejamos:
Na escola primária
Um dia num muro
Ivo viu a uva
Ivo soletrou
e aprendeu a ler.
a lição da plebe.
Ao ficar rapaz
E prendeu a ver.
Ivo viu a Eva
Ivo viu a ave?
e aprendeu amar.
Ivo viu o ovo?
E sendo homem feito
Na nova cartilha
Ivo viu o mundo
Ivo viu a greve
seus comes e bebes.
Ivo viu o povo.
(Lêdo Ivo)
Gosto dessas reflexões, mas é necessário agir também. Toda omissão, qualquer negligência deve ser estirpada das nossas ações. Sinto enorme prazer ao ver pessoas envolvidas como voluntárias de intituições filantrópicas.
Se desejamos fazer a vida valer a pena é necessário compromentimento com ela.
Drummond não desejou ser um poeta de um mundo caduco. Ele desejou a união de todos em prol de um mundo melhor.
O prazer de solidarizar-se com o próximo, de dar as mãos, de trabalhar por uma existência digna é preocupação de diversos poeta e escritores. precisamos superar nossas crises exintenciais, deixar de lado o individualismo, dar oportunidade para o outro.
Penso com Ezra Pound “Só se escreve poesia de boa qualidade a partir da vida”.

Thursday, April 13, 2006





Como a Páscoa é ressurreição, é renascimento, é tempo de recomeços, de semear a paz.







Todos pela paz



Queremos a alforria
Andar como Drummond
De branco pelas ruas
Cinzentas
Abaixo
A tirania das falsas ideologias
Que venha a renovação
As idéias frescas
Queremos mãos
Oferecendo apoio
Queremos a convivência pacífica
Entre gente, carros, bichos e árvores
Abaixo a corrida armamentista
Essa empreitada suicida
Nada de meninos
Perdidos na rua
Famintos de amor
De sonhos, guarida
Driblando seu medo
Sangrando manhãs
Não somos "de menos"
Pulsamos, ardemos, gememos
Nas escolas, nas ruas, nas praças
Nessas estradas tamanhas
Queremos o amor
O rastro, a semente, a prece
O aconchego, o abraço
Uma garantia de paz.
(Luciana Pessanha Pires)

Tuesday, April 11, 2006

Projeto "Café, Música e Poesia"- Passeio Cultural








Como já escrevi, este é um projeto de incentivo à leitura e sensibilização às artes, fruto de uma parceria entre a Cia de Arte Damadá, a Academia Itaperunense de Letras e O Colégio Estadual Rotary. O público-alvo é constituído pelos alunos do Ensino Médio da referida escola.Contamos com apoio cultural do Café Luana e da Viação Santa Lúcia.Durante três meses os alunos estão envolvidos em oficinas de textos e de artes com os membros da Academia Itaperunense de Letras e com os artistas da Cia de Arte Damadá, além de desenvolverem tarefas com os professores na sala de aula, participam de passeios culturais em sítios, fazendas, na Indústria de torrefação etc. Participam também de concurso de poemas,de palestras, de Roda de leitura, etc.Encerraremos o projeto numa noite festiva dia 02/05/06, na Zonzeria, em Itaperuna- RJ, às 18h, num sarau onde contaremos a história do café através das Artes.
Hoje fizemos uma excursão com os alunos em Santa Clara, no Sítio São Cipriano, dos proprietários Cláudia Jussara Campos, Rosa Andréia Campos e Maria Madalena Campos.Os alunos conheceram lavouras de café e a coleção de objetos antigos de Kleber Veloso Campos, remontando a época de 1889 até 1902.

Monday, April 10, 2006

O Projeto "Café, Música e Poesia" segue...




O Projeto "Café, Música e Poesia" segue cheio de entusiamo.
Hoje pela manhã a Academia Itaperunense de Letras visitou o Colégio Estadual Rotary. O acadêmico Carlos Braga conversou com meus alunos do Ensino Médio sobre o tema "Poesia e Vida".
Os alunos conheceram também as Plaquetas Literárias com versos e prosas dos membros da Academia.

Friday, April 07, 2006

Reunião da Academia Itaperunense de Letras
















Reunião da Academia Itaperunense de Letras no último sábado, dia 1º de abril, na casa de Flora Malta Carpi nossa primeira Presidenta. A pauta da reunião foi o Projeto Sarau "Café, Música e Poesia".

Dores miúdas


Ando assinalando
Frutificação
No meu tempo vigilante
No meu tempo
Descarnado
Lava cinza cratrera
Pedregosas dores
Miúdas
Desabrocham
Assoldadas
Na viração do dia
Minha vida
Crava no solo
Infecciosa febre
Amor

Sarau de Poesia na Lapa- RJ


Fui convidada para participar do Sarau do amigo Nilton Alves, na Lapa- RJ, no dia 1º de maio de 2006..

Sarau de Poesia - um evento onde todos os presentes podem participar. Acontece na primeira segunda feira do mês. Bar, Café e Restaurante Céu Aberto Rua do Lavradio, 170 - Lapa às 19.30 horas Sempre com convidados especias.
Convidados: Luciana Pessanha Pires
Claudia Luna
Samira Zommari
Áureo Ramos

Te abraço Te dengo Te cheiro Te faço rir
















Sabe aqueles dias difíceis? Gripe, menstruação, cólica... problemas imensos e você com aquela vontade de ficar na cama, tomar um chá de maçã, receber um dengo? Hoje é um desses dias. E tenho os meus rituais para amenizar as dores. Uma caneca que diz o que quero ouvir, umas leiturinhas deliciosas, chocolate, um número na agenda para bater um papo ameno, uma roupa bem confortável, no vídeo, boa comédia, depois um soninho ... revigorante! Daqui a pouco a vida segue mais calma.
Melhor caminhar assim sem grandes angústias, com uma boa rotina.

Tuesday, April 04, 2006

Vai bem um café e uma boa prosa?

Foto:abic

Pode ir entrando, tem uma xícara de café e bom fio de prosa.

É bom aprender a evitar o diálogo truncado e praticar o constante diálogo, como nos convida o poeta Carlos Drummond de Andrade:

Há muitos diálogos
O diálogo com o ser amado O diálogo contigo mesmo
O semelhante com a noite
O diferente os astros
O indiferente as idéias
O oposto os sonhos
O adversário o passado
O surdo-mudo o futuro
O possesso Escolhe teu diálogo
O irracional e
O vegetal tua melhor palavra
O mineral ou
O inonimado teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio
E com o silêncio dialogamos.

Somos uma sociedade carente de diálogos. Pais e filhos não se entendem, as famílias estão se “desmontando”, as instituições sofrem por falta de diálogo, a sociedade está manca, a violência atinge níveis insuportáveis. Agimos centrados em nosso egoísmo, não aceitamos negociar, ouvir o outro, pensar sob a ótica dele. A todo preço queremos nossa vontade e nossas necessidades atendidas. A vida ficou pesada, difícil.
Talvez por isso, Roseana Murray, poeta, fez o classificado poético transcrito abaixo:
“Procura-se um lugar no planeta
onde a vida seja sempre uma dança
e mesmo as pessoas mais graves
tenham no rosto um olhar de criança.”
Somos feitos para a convivência. Co-existir é uma construção que se faz no cotidiano. É lançar um olhar ao outro.
Os poetas sabem o que dizem. Ouçamos suas vozes:
“ Eu preciso de diálogo
Eu preciso ver
Ver em você, minha cara
Metade minha, metade clara.”
(Frederico Barbosa)
“Como poderei ver o próximo se estiver ocupado apenas de mim mesmo?”
(Erich Fromm)

“É preciso reformar a casa
Abrir as janelas
É preciso destruir as cercas
É preciso reformar o homem.”
( Cláudio Murilo)


“O que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?”
( Drummond)


“Vamos conjugar o verbo fundamental
essencial
o verbo transcendente
acima das gramáticas
e do medo, da moeda, e da política
o verbo sempreamar
Razão de ser e viver.”
(Drummond)

Preparei um jogral em homenagem ao “poeta da condição humana”, do ficcionista, do ensaísta, do procurador de justiça aposentado, do acadêmico Carlos Nejar, membro da Academia Espírito- Santense de Letras; da Academia Brasileira de Filosofia, no Rio de Janeiro; do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo ; e da Academia Brasileira de Letras por ocasião de sua visita a Itaperuna durante o Projeto de Incentivo à Leitura- PILL II.
Essa homenagem é uma leitura de fragmentos de poemas de Carlos Nejar, criando um mosaico de citações, relacionando textos de diversos poetas:

O poeta vai tirando da vida
os seus poemas
como pássaros desobedientes
e amestrados.
A palavra é o seu castelo,
Sua árvore encantada,
Abracadabra construindo o universo.
( Roseana Murray)

Os poemas são pássaros que chegam
Não se sabe de onde e pousam
No livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
Como de um alçapão.
Eles não têm pouso
Nem porto
Alimentam-se um instante em cada par de mãos
E partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
No maravilhoso espanto de saberes
Que o alimento deles já estava em ti...
( Mário Quintana)


Um dia vi Deus numa palavra
E luminosa despontava, argila.
E Deus vagueava tudo, aquietava
As numinosas letras, quase em fila.
E depois se banhava nesta ilha
De bosques e bilênios. Clareava
As formigas noctãmbulas da fala.
E nele os meus sentidos se nutriam.
Os meus sentidos eram coelhos ébrios
Na verdura de Deus entretecidos.
A palavra luzia nos sentidos.
E Deus nas vistas do menino, roda
E roda nos olhos da palavra.
( Carlos Nejar)


Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência , a vossa!
Todo o sentido da vida
Principia a vossa porta.
( Cecília Meireles)


Chega mais perto e contempla as palavras
Cada uma
Tem mil faces secretas sob a face neutra.
E te pergunta, sem interesse pela resposta,
Pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
( Carlos Drummond de Andrade)


Palavras são como estrelas
Facas ou flores
Elas têm raízes pétalas espinhos
São lisas ásperas leves ou densas
Para acordá-las basta um sopro
Em sua alma
E como pássaros
Vão encontrar seu caminho.
( Roseana Murray)



Falou e disse um pássaro,
Dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
E disse amor, penúria, brevidade.
E disse, disse, disse
A idade da eternidade.
( Carlos Nejar)

Nossa é a miséria,
Nossa é a inquietação incalculável,
Nossa é a ânsia de mar e de naufrágios,
Onde nossas raízes se alimentam.
(Carlos Nejar)

A palavra na boca
Na boca a palavra: força.
A palavra de boca em boca
Na era de calar a boca
A era de falar à força.
(Mário Chamie)






O barulho de existir:
Um cão dentro de mim.
Atravesso
Como a um pátio
O barulho de existir.
( Carlos Nejar)


Viver é estar acordado
E acordar. E comer
O pão, beber a branca
Alegria, deitar
Com as lavas.
E no tempo ajustado
Pela alma, erguer
As asas.
(Carlos Nejar)
A roda de Deus nos toca.
E vives
Como um ramo
De amanhecer na boca.
( Carlos Nejar)




Um dia vi Deus numa palavra.
( Carlos Nejar)
Ele gostou.

Boa leitura na rede










Que delícia a conjugação bons livros e uma rede!






Tenho hábito de ler dois ou três livros ao mesmo tempo. Vou alternando as leituras, procurando textos relacionados, consultando dicionário, fazendo anotações, deixando uma pausa para pensar um pouco, projetando toda uma rede de conhecimentos que ativem o texto no ato de interpretação. É um momento de prazer inigualável.
Acabei de ler os livros acima. A prosa deliciosamente irônica de Machado de Assis. A prosa comezinha de Adélia Prado, as reflexões de Rubem Alves, poemas cortantes de João Cabral de Melo Neto, poemas do Mestre Drummond...
E tudo isso no balanço macio da rede.
Depois da leitura, às vezes arrisco uma brincadeira, um poema ou uma crônica.
Ao terminar a leitura do livro Serial e Antes, de João Cabral de Melo Neto. Brinquei um pouco. Usando versos soltos de diversos poemas “montei” o poema abaixo:
Divisando a alma
Meus olhos têm telescópios
espiando minha alma
são lentes de aproximação
tudo permitem divisar.
(Os olhos ainda estão muito lúcidos)

E agora, em continentes muito afastados
os pensamentos amam e se afogam
em marés de águas paradas
que o mar esfrega e reesfrega..

Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Sob meus pés nasciam águas
que eu aprendia a navegar.

Há um homem sonhando na praia.
Os homens podem
sonhar seus jardins
que o mar depois desinfeta.

As coisas não são muitas
que vou encontrando neste caminho.
Entra comigo a gente
que com o mar sonhou.
Tudo aqui sofre a morte mansa
do que não se quebra, se desmancha.

A vida está toda bichada.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca
que tritura como qualquer dente.

Amor que a distância eneblina
como se tudo fosse o mar
com a água da correnteza
água toda em profundeza.

Há aqui homens mais homens
que em sua luta contra a pedra
sabem como se armar
com as qualidades da pedra.

Sou viajante calado
no meu destino de mar.

Sunday, April 02, 2006

Domingo à tarde, um tempinho delicioso, chuvinha fina, bom filme, um vinho tinto... A vida me parece boa.
Como sem um copo de vinho a vida não vale a pena, sem um pouco de poesia a vida massifica-se. “O vinho inspira e contribui enormemente para a felicidade de viver”, como dizia Napoleão Bonaparte. “ Há mais filosofia em uma garrafa de vinho do que em todos os livros”. A frase é de Pasteur. Você já parou para observar a presença do vinho no imaginário das artes plásticas? O vinho é, aliás, uma das temáticas mais glosadas pelos autores clássicos, desde Hesíodo, passando por Homero, até Horácio e Virgílio. Vinum bonum laetificat cor hominis, o bom vinho alegra o coração do homem, diziam os latinos. A poesia lírica greco-latina está intimamente ligada às festas das vindimas, como as que se faziam em honra de Dionísio, o deus grego do vinho, ou as Bacantes, em honra de Baco.

Comunique-se com um Cálice de Vinho. Tim Tim!

E como canto de celebração
que a emoção converte em poesia
Brindemos afinal à própria vida
que o vinho ensina o homem
a fruir
com o prazer
do amor e da alegria
Sérgio Campos