Thursday, December 08, 2005

Amor nenhum





Certos amores são abscessos que terminam por suporação. Amor aprazado, suprimido, Infectado, não resiste.Com o tempo, percebe-se que houve deserção, o amor
partiu aportado de mágoas.


Se estou desabituando-me do amor? Não. Na madureza ainda há coração tomado de assalto, esperanças fundadas em promessas...A certa altura da vida você já expeliu do peito algumas inocências, despachou mulambarias, desapossou, decifrou...Após algum amor faltoso, desencaminhado, segue-se tempo intervalado. Aprende-se a fazer farol, a sustentar o olhar, a colecionar instrumentos para sondar. Pode-se realizar inquéritos minuciosos.Mas o amor tem suas proezas: achando o coração depurado e limpo, investe, sabedor que não há a cessação da capacidade de amar. Continua o fagulhamento. O amor sabe que o coração humano possui asas membranosas e nuas, toques de fragilidades; borboletas que encontram uma forma de quebrar o escafandro.

2 Comments:

Blogger Ricardo Mainieri said...

Prosa bem interessante e madura sobre o amor.
Nós que já atravessamos a ponte balouçante dos quarentanos, ficamos menos iludidos, mas resta, sempre, uma fagulha no peito que pode incendiar.
É esta a reflexão que o texto me traz.

Beijão.

Ricardo Mainieri

5:06 AM  
Anonymous Anonymous said...

ah Luciana! isso que dá em ser artista..poder refletir exatamente o que tantos (e eu arriscaria TANTAS, pq é bem qualidade ou "maldição" feminina essa de saber, de parecer que amadurecemos pelo que aprendimos e vc diz, mesmo assim "nao cessar"..e nao cessamos nao..voltamos a sofrer pelas mesmas coisas que já achavamos superadas rs. Isso nao diz seu texto que é um canto à esperança de continuar amando, mas seu texto provoca em mim essa conotação de tropeçarmos sempre com a mesma pedra, ainda com toda essa sabedoria rsrs ..
Maravilha tua prosa Luciana, sempre é um prazer ler teus textos.

8:22 AM  

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