Friday, March 31, 2006

Para você ficar bonita



Vitrine

Para você ficar bonita

Precisa de enorme anel de cristal

Sandálias de camurça

Estampa de jornal

(Luciana Pessanha Pires)

Sair do casulo refeita para a vida

Sexta-feira é dia de sair do casulo refeita para a vida. Dia de ficar bonita. Folhear agendas, revistas, escolher o melhor sorriso, a roupa, a companhia, boa conversa, risadas ruidosas. Deixar escapar um poema.

Eu quero apenas
Eu quero apenas
ser mais leve
breve
como as brumas
estalando beijos
nas pedras
Eu quero apenas
ser mais lua
um átimo de luz
na noite triste dos homens
acumpliciada
tangida
pedraria

Wednesday, March 29, 2006

Projeto "Café Música e Poesia"

Estou coordenando um Projeto de incentivo à Leitura e sensibilização às Artes, em Itaperuna- RJ. Vamos contar a História do Café através das Artes. Os parceiros do Projeto são a Cia de Arte Damadá, a Academia Itaperunense de Letras e o Colégio Estadual Rotary. O trabalho é direcionado aos alunos do Ensino Médio da Escola. Homenagearemos os poetas Mário Quintana ( pelo centenário) e Manuel Bandeira ( pelos 120 anos do seu nascimento) no Concurso de Poemas. Finalizaremos o projeto no Sarau Lítero-Cultural, dia 02 de maio, às 18h, na Zonzeria, em Itaperuna.
A propósito: Mário Quintana foi aluno de Manuel Bandeira.




De Manuel Bandeira para Mario Quintana:
Quintanares

Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!
Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.
São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.
Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.
E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares
Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.
Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares.

Quer comprar o selo lançado pelos Correios para homenagear Mário de Andrade?

"O selo apresenta, em primeiro plano, à direita, a imagem sonhadora de Mario Quintana, trabalhada com base em fotografia. À esquerda, está impresso trecho do poema ?O Mapa?, entremeado nos cabelos longos de uma mulher, cujo corpo repousa sobre os versos, tal qual o mapa de uma cidade, que o poeta divaga com seu olhar. A técnica utilizada foi o talho doce."
Mário dizia que fazia poesia por necessidade e que "Poeta não é profissão. É um estado de espírito, ou de coma".

Monday, March 27, 2006

Os livros dos meus amigos


Casa No Campo
Elis Regina
Composição: Zé Rodrix e Tavito
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

Conversa ao pé da estante



Que prazer manusear um livro, ler, tecer comentários sobre ele. Escarafunchar a estante, conjugar o verbo de Drummond "buquinar" horas a fio , conversando com poetas e escritores ao pé da estante. Saboreando o café e a alegria do convívio. Uma conversa "de pé de orelha" com os livros, uma intimidade deliciosa entre pilhas e pilhas de livros acumulados.
Borges Sabato Diálogos, organizado por Orlando Barone me diz:
"Assim como Aristóteles diz que as coisas se diferenciam naquilo em que se parecem, talvez pudéssemos dizer que os homens se separam pelo mesmo motivo pelo qual se gostam".
A Antologia de Machado de Assis provoca o riso com um texto do Mestre publicado em 4 de junho de 1883 com o propósito de compor certas regras para o uso dos que freqüentavam bonds.
ART. I- Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais que três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue."
O café acabou, agora o chá de maçã faz companhia. Vou folheando os livros aleatoriamente. Encontro as palavras de Aluísio de Azevedo no "Livro de Uma Sogra":
"Palmira precisava de um novo cooperante genésico todas as vezes que tivesse que engravidar."
"E assim, mutuamente enganados, mutuamente iludidos e engodados- casam-se. mas mal ainda os dois falam entre si e com os amigos em "lua-de-mel", e já cada um por sua conta começa a descobrir no companheiro imprevistas particularidades, reais e prosaicas, que vão surdamente desdourando o insubstituível prestígio poético que exerciam um sobre o outro.
Hoje um flato mal disfarçado, amanhã um ligeiro transbordamento de humor belioso, em seguida uma cólica desmoralizadora..."


Vou interrompendo uma leitura e olhando para o próximo livro que me chama. procuro um lugar na estante para acomodar os livros que ganhei dos meus amigos. É, tenho amigos poetas, escritores.
A sala imensa acolhe essas preciosidades. E o tempo... nem vejo passar.