Entrevista com Antônio Lázaro de Almeida Prado- 1ª parte
Tive a honra de entrevistar Antônio, Professor Emérito da UNESP, poeta e jornalista, na minha comunidade Discutindo Literatura, no orkut.
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=3332336&tid=2424700199003872931&na=3&nst=-2&nid=3332336-2424700199003872931-2424720890005074924
O colóquio:
Professor Antônio, bem-vindo! Obrigada por nos honrar com sua presença. Para começar nosso colóquio, a poesia é mesmo necessária?
A poesia foi sempre e será sempre companheira inseparável dos homens, porque é o canal mais adequado que permite condividir através de palavras os movimentos mais caracteristicamente humanos: emoções, solidariedade, ansias, anseios e temores. Daí o caráter essencialmente unitivo, vale dizer articulador, da arte literária.
Voltando à poesia, qual é a sua concepção do fazer poético? Para você,(posso?) a criação poética é um trabalho de transpiração, de inspiração, de respiração ou de transe? Ou é tudo isso ao mesmo tempo?
Penso que a melhor visão sobre o fazer poético foi definido por Giambattista Vico. Segundo ele todas as crianças, vale dizer, todos os seres têm naturalmente vocação poética. A isso acrescento que de todas as artes a mais fundamentalmente humana é a arte da palavra, que requer, para fazê-la ou recebê-la, o exercício empenhado das melhores virtualidades humanas. Com isso, a poesia participa e requer inspiração, construção: aquela e esta imprescindíveis. Não há poesia que se faça pelo facilitário e é ela sempre fruto de um lúcido ajuste de emoções e palavras.
Virgílio disse: "Sed fugit interea, fugit inreparabile tempus, singula dum capti circumvectamur amore" ("Geórgicas", 3, 284). Na bela mas pouco literal tradução de António Feliciano de Castilho isso dá: "Quisera abranger tudo, e tudo me convida; mas o tempo é fugaz, e curta e incerta a vida. Como é sua relação com o tempo, Antônio? O virar da ampulheta causa que sentimento em você?"Quero inventar a vida" Esse verso do seu poema INVENÇÃO DA ALEGRIA solicita um novo tempo?
"Itinerário de Pasárgada", onde Manuel Bandeira faz algumas revelações sobre seu métier de poeta seria fruto dessa necessidade de recriar a vida, de movimentar o tempo?
O tempo propõe sempre aos poetas promessas e surpresas, inscrito na temporalidade o homem, no mais íntimo de sí próprio, clama sempre pela permanência e pela continuidade da vida. Só os grandes poetas místicos, como São Franscico de Assis, Santa Tereza de Ávila ou Jacopone da Todi podem dizer, por exemplo, ¨louvado seja, Senhor, pela nossa irmã Morte¨, ¨Y muero porque no muero¨, ¨Signor, per cortesia, famme morir d'amore¨. Para mim o tempo é sempre uma agradável surpresa e um arcano desafio.
Se você tivesse que fazer seu “itinerário de Pasárgada”, que traços seriam os mais definidores de sua aventura poética?
Para Lêdo Ivo..
¨O tempo é uma mentira das estrelas¨. Mas para muitos poetas o tempo é sempre uma ameaça, que eles pretendem exorcizar.
Nos dias que vivemos – os da suposta pós-modernidade – estaríamos diante da necessidade da hiperpoesia para responder à expansão de um modo de pensamento compartimentado, atomizado,globalizado?
Itinerário de Passárgada
Respondo com meu poema: Biografia.
Biografia
Cobrei da vida
A taxa da alegria,
Plantei no solo
A safra dos instantes.
Amei, sofri, cantei,
Eis o que importa...
O resto é sobra
De mito e lenda...
1 Comments:
Parabéns pela entrevista Luciana. Gostei!
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