Sunday, August 06, 2006

Entrevista com Michèle Sato




No dia 23 de Julho de 2006, por iniciativa da Luciana Pessanha Pires, o fórum sobre Educação Ambiental teve início com Michèle Sato. Finalizado no dia 2 de agosto, este é um registro do debate que promoveu a Educação Ambiental na comunidade “Discutindo Literatura”, com utilização da ferramenta virtual do Orkut. Os equívocos gramaticais, abreviações ou lapsos ortográficos, aqui cometidos devem ser relevados e não comprometem o fórum. Recuperamos em Oswald de Andrade, a beleza de todos os erros gramaticais!
Muits mensagens foram omitidas, por representarem agradecimentos, elogios, ou palavras da moderação.
Luciana
Entrevista com Michèle Sato 23/07/2006 17:15
Michèle Sato é Bióloga, mestre em filosofia e doutora em ciências, atuando toda sua vida profissional no campo da educação. Atualmente é Consultora - United Nations Educational Scientific And Cultural Organisation, Perita - Japan International Cooperation Agency, Facilitadora das Redes de Educação Ambiental em Mato Grosso, no Brasil e entre os países lusófonos. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso e da Universidade Federal de São Carlos e Consultora ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.Tem 38 artigos publicados em periódicos especializados e 224 trabalhos em anais de eventos. Possui 58 capítulos de livros e 18 livros publicados, 2 softwares e outros 219 itens de produção técnica. Recebeu 6 prêmios. Atua na área de Educação, com ênfase em Educação Ambiental (EA).
Seu livro “Educação Ambiental: pesquisa e desafios” foi indicado para o mais importante prêmio literário do país- Prêmio Jabuti de literatura- instituído pela Câmara Brasileira do Livro desde 1959.O livro concorre na categoria Educação, psicologia e psicanálise ao 48º Prêmio Jabuti. 23/07/2006 17:18Iniciaremos a entrevista no dia 26/07/06 e encerraremos no dia 02/08/06.Todos os membros podem participar.
Michèle, seja bem-vinda!Essa entrevista é uma honra para a comunidade Discutindo Literatura. Obrigada pela oportunidade. Receba nosso carinho.
Mi
23/07/2006 17:49Querida Luciana e colegas, a honra é minha e é um imenso prazer estar aqui com vocês. Obrigada pela oportunidade.
Carlos
23/07/2006 20:11Cara professora,Como professor de língua e literatura, achei muito interessante sua proposta de recorrer às lendas e mitos indígenas no desenvolvimento do projeto relacionado a questões ambientais e desenvolvimento sustentável. Pelo que entendi, sua proposta integra duas variáveis fundamentais no ensino contemporâneo:1. partir do conhecimento que a comunidade já tem e 2. relacionar o conhecimento à ação transformadora, suponho eu que pela problematização da situação.Minhas perguntas:a. O projeto já está em andamento em alguma escola, já foi concluído? Como foram os resultados?b. Vejo que o eixo do trabalho é a ficção. Por que um cientista das exatas proporia exatamente esse recorte? (Isso é provocação, no bom sentido).
Um abraço.
Mi
para CARLOS 24/07/2006 07:37Prezado Carlos,Realizamos algumas 'táticas' com a comunidade: 1) gibi; 2) teatro; 3) contando histórias; 4) fórum de discussão. Foi maravilhoso trabalhar os mitos desta maneira, pq algum tempo depois, vi crianças como nossos gibis conversando com os pescadores. Através do material pedagógico, eles pediam que não jogassem as latas de cerveja na baía e enfim, o grande sucesso: NÃO era a academia que realizava a educação ambiental, mas seus habitantes.Não me considero 'cientista das áreas exatas', mas uma identidde híbrida de educação, ecologia, literatura e muito de filosofia, em especial à fenomenologia.muitos beijos - adorei tuas provocações
Fabrício
23/07/2006 20:11prezada professora,
Sinto que a efervecência das primeira décadas de atuação dos movimentos ambientalistas esfriaram, inclusive a atuação do partido verde alemão, modelo de atuação verde no mundo, hoje eles se articulam inclusive com a primeira ministra Angela Merkel. Percebo que aquela proposta de atuação radical, no sentido da mudança do padrão de reprodução civilizatório, se perdeu entre a busca de acordos, não assinados, e institucionalização das principais lideranças. Este cenário, se concorda com ele, estaria ligado à tematica do fim das utopias, fim da história? ou se mudaram as estratérgias? uma delas seria a educação ambiental? abraço.
Mi
FABRÍCIO 24/07/2006 07:42Que linda provocação, Fabrício, obrigada por isso. O fim da história revela uma orientação nefasta da UNESCO, que junto com FMI e BIRD orientam para a década do "desenvolvimento sustentável (DS)". Tenho falado e publicado constantemente contra isso, recuperando o movimento ECOLOGISTA, para além do ambientalista. Aposto na utopia e na radicalidade de Husserl, combatendo o mal pela raiz, ou seja, propondo as SOCIEDADES sustentáveis - no plural e inclusiva.Há, portanto, corações que ainda não se sucumbiram e que ainda lutam pela participação à construção da proteção ecológica com inclusão social. As redes de educação ambiental têm se posicionado a favor das identidades da educação ambiental, contra a hegemonia do DS.beijão de esperanças.
Francisco
Cara Professora, 24/07/2006 05:00Me refiro à recente decisão de tornar obrigatórias, no ensino médio, as disciplinas de filosofia e sociologia, mais especificamente com relação à filosofia.
Em se tratando de adolescentes e não de universitários ou pós-graduandos, como, em seu ponto de vista, trazer estes jovens para uma compreensão da discussão filosófica, evitando algum desinteresse habitual do jovem pela disciplina, ou até mesmo, a tendência às disputas polêmicas?
Em síntese, com adolescentes, como despertar a paixão por aprender a pensar, evitando-se disputas retóricas, cujo objetivo tem sido ganhar a discussão e não pensar o problema ?
Mi
FRANCISCO 24/07/2006 07:46OLá Francisco, vc já ouviu falar de coletivos jovens? Cada estado brasileiro tem um e eles se mobilizam para ter audiência e contribuir na formulação de políticas públicas. Aqui em MT, fui convidada pra ser 'madrinha' deles e com este status, apareço nas reuniões de vez em qdo, participo das listas (tem orkut tb) e sempre tento 'filosofar' com eles. A maioria de jovens, mas tb agrega moçadinha de 11-14 anos. Sob o espírito de 'jovem educa jovem', temos conseguido fazer bons trabalhos por aqui. Não é tutelar por eles, senão discutir caminhos e aprender ensinando. Eles alegam que sou jovem há mais tempo, o que faz um bem enorme a este ego!beijos
Delmar
Como trabalho na área de etnoliteratura 24/07/2006 06:31percebo o descaso com a preservação dos sítios arqueológicos e com a recupeação, manutenção e pesquisa de documentos históricos no Brasil. A biologia tb tem hoje, com a pesquisa genética, um importante papel na reconstrução de nossas origens etnos. 50% do DNA de todos as famílias do pampa gaúcho é de etnia indígena (Minuano/Charrua) mas esses povos estão completamente esquecidos, pouco se sabe deles. E assim rola no resto do país, pois em cada região havia uma tribo diferente que foi extinta ou reduzida com a miscigenação. Enquanto os negros lutam para ser reconhecidos, pq os descendentes indígenas preferem esconder e ignorar suas origens?
Mi
DELMAR 24/07/2006 07:51Tomara que meus amigos indígenas não te ouçam, pq eles lutam bravamente pela construção de identidades aqui em MT. Este ano, decidi que não oriento mais branco falando de índios e oriento duas moças (Bakairi e Miki) no mestrado. Resgatam suas histórias, tornando a educação oral como possibilidade de aliar educação popular à escolarizada. Eivdenciam seus mitos, ritos e gritos - e o movimento indígena tem força incrível, não sei se mais forte que os negros, desde que são em n. reduzido, mas igualmente "bravos guerreiros".Tenho projeto no Xingu e temos tentado revirar as políticas públicas para, junto com eles, escrever outra história.beijocas
Maria
Aparecida
Mulheres... mulheres... 24/07/2006 17:07Prezada. Eu li uma certa vez um livro que me impressionou muito,chamado "Mulheres que correm com os lobos", de uma autora cujo nome me escapa agora.Essa autora faz terapia com mulheres usando as Histórias de Trancoso para "reativar" as pacientes, na tentativa de buscar suas raízes, e a "mulher selvagem" que existe dentro delas e que foi "domesticada" por séculos e séculos de opressão. Diga-me uma coisa: Pode-se falar em preservação da Natureza sem antes salvar os humanos?Um abraço, e saludos. Maria José Limeira.
Mi
24/07/2006 17:31Clarissa Pinkola Estés - de ousar sonhos, vestidas de farrapos, nudez ou à moda de sua época... lindo livro!Não consigo enxergar a dimensão ambiental fora da sociedade. Sigo uma tendência que alia justiça social com proteção ecológica... Portanto, proponho uma dialética, talvez não hegemônica de Hegel, mas até tensiva de Levinas. Sociedade e natureza juntas, pois não há como dividir porções intrinsecamente relacionadas...Se Jung ajuda as mulheres, talvez a EA possa ajudar as mulheres, os homens e tantos outros gêneros vierem...beijos femininos
Keytizinha
Linda profissão... 24/07/2006 18:31Oi...Olha resolvi responder o tópico... pelo fato q me chamou mt atenção... o de vc ser Biológa... é q faço o curso Bacharelado em Ciências Biológicas...Daí eu gostaria de saber em qual área vc atua??????Fui aluna da professora Luciana Pessanha por alguns anos... a qual me apoiou mt na caminhada para um curso superior...rsrsrSucesso na sempre na vd..,xau
Mi
24/07/2006 21:18Meu forte tem sido na educação e nem sei se sou mais bióloga, embora goste demais dela. Gosto de filo, arte e literatura... tempero tudo isso com a ecologia... o samba não é de criolo doido, mas dá um gingado gostoso da educação ambiental - EA.Como diria Raul: metamorfose ambulante. Tb aprendo muito com a Luciana e adoro seus poemas. Adoro mais a forma carinhosa como ela trata os seus amigos, pessoa singular... desparecida por aqui, não é? será que é de propósito?bem, boa noite... vou nanar... sonhem colorido
Osvaldo
Querida Michèle, 25/07/2006 07:13Quero, em primeiro lugar, agradecer o seu convite para participar desta comunidade. Segundamente, manifestar minha agradável surpresa de ser amigo de uma autoridade em importantes campos do conhecimento. Sinto-me uma abelha operária diante da rainha da colméia.Bem, quero trazer um questionamento que vem, cada dia mais, fazendo parte de minhas principais preocupações: a sobrevivência deste planeta. Mas não consigo pensar esta questão desvinculada da política. Quando falo em política, naturalmente me ocorre as ações dos partidos políticos. E, por um esforço mental e espiritual, realizo a façanha de não entrar em depressão... rs. Em minhas reflexões, sempre pendente para um viés esquerdista, tendo a acreditar que a semeadura dos ideais anarquistas é uma exigência para ontem, se quisermos imaginar a sobrevivência do planeta Terra. Gostaria de saber a sua opinião a esse respeito.Beijos
Mi
25/07/2006 08:28Querido Osvaldo, agradeço suas generosas palavras, mas oxalá este fórum seja uma aprendizagem coletiva e possibilite nossos diálogos na perspectiva da simetria de olhares e saberes. Como vc, tenho os princípios anarquistas fortes, da horizontalidade e do pulsar em sonhos coletivos. Foucault resgata a utopia de Thomaz More - o local verdadeiro dos sonhos individuais e ousa a heterotopia - um local de sonhos COLETIVOS. Na heterotopia dos meus desejos, a sustentabilidade planetária é um constante desafio POLÍTICO. Eminentemente político e não neutro. A mediação pedagógica parece ser a mola propulsora destas transformações, embora não esteja ilhada de outros fatores sócio-ambientais. Por isso, meu lado militante é tão forte qto acadêmico, na ousadia da guinada política que poderá formular políticas públicas fortalecidas à democracia, com ampla inclusão social e muita proteção ecológica.Um abração carinhoso
Luciana
Michèle, querida! 25/07/2006 14:10Peço desculpas pela minha ausência no tópico. Firmei compromissos para os dias anteriores a quarta-feira e não houve tempo para desfrutar o prazer da sua companhia aqui. Sabe que é bem-vinda, amiga! Obrigada pelas palavras carinhosas.
O tópico está lindo, apreciei muito as participações e aguardo as participações dos outros membros. Nossa comunidade costuma prestigiar as entrevistas.E você merece o nosso carinho.
Tenho uma pergunta:
Teocentrismo, Antropocentrismo, Holismo... tantos "ismos"... Que norteamento você sugere como reflexão sobre o que se quer fazer com o habitat? Quero saber sobre suas propostas para a humanidade.
Obrigada!Abraço________________Educação Ambiental 25/07/2006 16:07a) Como envolver as pessoas?b) Como o poder público pode contribuir?c) O que um empresa ou empresários podem fazer?
Mi
qual projeto da humanidade? 25/07/2006 23:27Paulo Freire diria que é preciso SULEAR, para quebrar a hegemonia do ‘norte’ e dar um tom cultural da não neutralidade... E claro, não há nenhum projeto que se crie para humanidade que não se crie em nome próprio. De oráculo, varandas às ruas, o ser humano sempre está em constante busca deste projeto humanitário. O meu é enorme - quero mais felicidade... E o que é felicidade? Depende de cada tribo, sociedade ou Nação...No olhar fenomenológico, cada qual traz suas verdades, sem contudo, tolerar agressões. Violências devem ser combatidas, libertando o oprimido ao vôo livre de sua aprendizagem em comunhão.
Luciana
25/07/2006 16:44Querida, qual é a sua opinião sobre a entrevista com Marcos Sorrentino, diretor de educação ambiental do Ministério do Meio Ambiente?O link:http://www.canal-ea.net/video_exibir.asp?CODIGO=46 ________________25/07/2006 17:05Essas questões em discussão me lembram o poema de Drummond:
Mãos DadasNão serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheirosEstão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considere a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente........................................Você disse que também se interessa pela literatura. Quais são os poetas que você aprecia?
Mi
poetas? - uau 25/07/2006 23:39Puxa, são tantos... Mas creio que meus preferidos (não estão em ordem de preferência, mas preferidos) são: Paulo Leminski, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Octavio Paz, Luciana, Osvaldo, Denise e tantas outras pessoas maravilhosas que conheci neste mundo iogurteano...Do antropofágico Oswald de Andrade ao clássico Shakespeare, temperados pelas paixões dos sentidos polissêmicos que a poesia nos traz...
Mi
políticas públicas 25/07/2006 23:31Marcos Sorrentino é amigo do coração. Companheiro de lutas antigas, parceirão de sonhos e atualmente, sou consultora da Diretoria de Educação Ambiental (DEA--MMA) que ele dirige. E portanto, não sou suspeita - sou amiga conhecedora de seus sonhos. Uma única palavra: MARAVILHOSO. Sua coragem é uma inspiração ao fortalecimento da EA neste país. É dele tb a proposta de ‘Pessoas que Aprendem Participando (PAP)” - na arrojada proposta de dinamizar a EA envolvendo a participação através de coletivos educadores. Temos dialogado com todos os segmentos, inclusive com sindicalistas, empresários, pescadores, professores e tantas outras pessoas que merecem ter mais audiência de suas vozes.
Camélia
MUito prazer Michéle 26/07/2006 06:14 Desculpe a simplicidade de minha pergunta.Mas eu sempre tive vontade de perguntar a um pessoa realmente entendida em ambientalismo.Sabemos dos problemas causados pela poluição,do estrago que tem sido feito no planeta,e que a melhor solução é a educação ambiental.É necessário uma solução para melhorar as condiçãoes de sobrevivência da humanidade agora,mas de uma forma mais ampla,a longo prazo,eu ainda tenho a esperança de que os danos causados pelo homem,não seja irreversível.E que tudo que o homem destrói será um dia reconstituido pela própria natureza.Gostaria de saber tua opinião a respeito.Sei que deve ter todas estas respostas em teus livros,mas ainda não tive o prazer de ler.POr enquanto.
Mi
para CAMÉLIA 27/07/2006 06:55Eu acho que existem vários olhares sobre a EA. Um destes olhares talvez seja o resolucionista, uma EA que é utilizada como ferramenta ao combate dos danos ambientais. Entretanto, várias dissertações e teses são defendidas, textos publicados e o evidente crescimento da EA nos espaços escolarizados e fora dele; e os dilemas ambientais aceleram em paradoxo a esta produção. No meu olhar, a EA não resolve problemas humanitários, nem ambientais, assim como a literatura não resolveu, a sociologia ou qualquer campo epistemo-praxiológico. Percebo a mediação pedagógica como mola propulsora e busco em Freire a utopia do possível. Para além de ganhar esta batalha, meu projeto é mostrar de que lado estou. Ainda que capenga, faltando braços e pernas, frágil como asa de pardal. Esta é a luta que envolve um planeta mais sustentável, que aliada aos demais campos, podem mobilizar um novo projeto civilizatório, iniciando na reflexão do que significa desenvolvimento. A frase “Ordem e progresso” da nossa bandeira positivista necessita ser cuidadosamente observada e refletida, ousando a guinada política que poderá inaugurar uma nova era, marcada pelo direito à felicidade. Eu poucas palavras: eu ainda acredito na mudança.Um abraço e obrigada pela sua participação.
Val
26/07/2006 06:57Um bom dia.Como esse mundo virtual pode afetar o real, tornando-o mais agradável? O virtual é, aparentemente, melhor, mais bem cuidado, aparado. A questão virtual X real deve ser motivo de preocupação sociológica e ambiental?Um grande abraço a todos
Mi
para VAL - parte1 27/07/2006 06:55Val, envio um trecho de um texto, recentemente publicado no Rio. Acredito que responda sua questão.Um abração--------------Na geografia rudimentar da virtualidade, independente da idade ou temática, há uma espécie de impulso para a auto-expressão ou interpretação. Um elemento comum está por baixo, latente em estas manifestações gráficas deste simbolismo. É um desejo incoercível de dar forma indireta ao sentimento, aos conceitos e imagens que povoam a memória, e ao que não é perfeitamente redutível ao conceito racional.O valor da manifestação interior está no espontaneismo da subjetividade, mas o menor ruído externo pode abater-lhe, engessando a mão de quem comanda um teclado. O computador consegue, assim, ser um intermediário frio do mundo que habita o jovem e o mundo. Força uma relação pessoal através de um símbolo árabe, o arroba (@), talvez escondendo identidades reais nas fragilidades virtuais contemporâneas. De redução a redução, transformam abraços em “abs” e os beijos viraram “bjs”. Por isso, nem sempre estas almas torturadas conseguem sair do rudimentar uniforme. E ainda há aqueles que se impõem no envio de notícias e mensagens de auto-ajuda - mulheres do Afeganistão ou livros didáticos estados-unidenses roubando a Amazônia são pratos cheios de repetições que de tempos e tempos invadem nossas caixas postais. A instantaneidade da Internet elimina qualquer resposta após poucos dias de debate e uma simples mensagem, neste caótico universo virtual, torna-se um verdadeiro rabisco burlesco, pois o grotesco torna-se vitorioso de expressão. Foucault poderia declarar que a história do outro é a história da loucura - confuso, estranho, indefinido e, sobretudo, sem rosto, apenas através de um sinal de @.Entretanto, em alguns momentos, projeta-se um conjunto de emoções admiravelmente arquitetado na profundidade computacional que pula fora da tela, como se fosse capaz de tomar vida própria. Torna-se mágico sem produzir a sensação de estranhamento. Embora com dificuldade fenomenológica de reduzir o outro e o mundo em julgamento, mergulharíamos em Levinas (2004) para recuperar a mediação da experimentação viva e intersubjetiva do dia-a-dia. São mensagens pela linguagem contemporânea que cada ser desenha à luz de suas próprias experimentações e verdades. É a vitória humana sobre o ameaçador mundo de Matrix - por isso não é de se espantar que atualmente a internet talvez seja o melhor veículo de comunicação. O clima efervescente posto nesta era exige que recuperemos novos saberes, desde que ainda não temos resposta neste jogo fenomenológico da comunicação midiática.

Elenir
26/07/2006 09:44Suas respostas dão-nos alento e fazem-nos continuar acreditando na validade de lutar por este planeta. Li em Manoel de Barros:" Seu Zezinho-margens plácidas, célebre fazedor de discursos patrióticos, agora aposentado, morava em seu sítio denominado "A Abóbora Celeste", numa curva da estrada que procurava a Cacimba da Saúde./Vendia passrinhos e demais produtos do sítio./A gente negociava:/Seu Margens, dá duzentão de sabiá.../Vinham 3 sabiás: 2 de quiçaça e 1 de laranjeira."A dura realidade, nada lírica, são as manchetes diárias do contrabando de aves e animais de nossas florestas. Acredito que a Literatura seja uma arma poderosa, de pouco uso, e que pode se tornar poderosa nas mãos dos educadores. Como conscientizá-los disso?
Mi
ELENOR 27/07/2006 07:06Obrigada por Manoel. Não sei vc sabe, mas existe uma community sobre ele no iogurte, que aliás, faço parte. Oriento uma mestranda formada em Letras, seu objeto é buscar o fortalecimento da EA através da sensibilidade de Manoel, com especial atenção ao Pantanal, já que por ser pantaneiro, este poeta revela magias deste lugar... “Tudo que é bom pra lixo, é bom pra poesia”, diria ele, e assim vejo tb a EA, que busca denunciar os modelos perversos de desenvolvimento sobre o ambiente, lidando com resíduos do dia-a-dia. Mas há também um outro valor estético do surrealismo. A gosma da lesma por exemplo, percebida com nojo pela maioria, oferece moldar nossos caminhos de acordo com nossos passos, pelo seu não-engessamento. Lembra Thiago de Mello, que outrora preferiu chão de asfato para caminhar, mas que hoje percebe que os caminhos de barro são mais maleáveis. Incertos e difíceis, mas provavelmente deixarão mais marcas. A literatura, assim como a EA, diria FPessoa se vivo, é a confissão que a vida não basta.
Tag
Boa sorte, Michèle 26/07/2006 11:42Olá, Sato San (oriunda de Açaí?). Não conheço seu trabalho, fascina-me no entanto seu universo. Transcrevo trechos de um diálogo de um romance que escrevi. Gostaria de umas palavras suas a respeito: ..."Do jeito que as coisas vão, acho que todo mundo deveria pensar na construção de uma sociedade paradisíaca, estável e tranqüila, alegre como a do nosso índio, como disse Jorge Ben na música em homenagem a eles, na história o que há de mais perfeito, mais lindo, ou como diz Orlando Villas Boas, o melhor exemplo de convívio familiar de que se tem notícia, onde não se bate em criança nem em mulher; não se tem chefe e ninguém manda em ninguém nem tem ambição de acumular riquezas, onde não existe o fascínio pelo poder. É para esta verdadeira comunidade humana, para esta sociedade ideal que devemos voltar. Aliás, não só no Centro-Oeste, mas na Amazônia esta sociedade já existe, um exemplo vivo da convivência do sonho impossível, sem guerras. As tribos do Xingu, que substituem a guerra pela disputa esportiva, já mostraram o caminho. Quando a floresta é abatida, o índio perdeu tudo, seu alimento, seu modo de vida. Onde achar a caça, a pesca?”Boa sorte na sua luta, nossa.Um beijo, Luciana.
Mi
TAG 27/07/2006 07:16O texto é mágico, certamente. Minha única preocupação é venerar tribos indígenas assim como se fazem com religiões ou culturais orientais. Por certo, as orientações são mais éticas, Siddartha tinha princípios ecológicos, bem como Confúcio ou Lao. Mas Japão, Índia ou Rússia tem terríveis dilemas ambientais... Vivendo em MT, conhecendo as narrativas, partilhando a vida com meus amigos indígenas, sei que a cosmologia encerra uma profunda ética à vida, porém são humanos como todos nós, com limites e erros. Padecem de justiça, lutam por suas existências e constroem suas identidades à luz de cosmogonias próprias. É um risco tentar analisar suas vidas com nossos padrões de sociedade branca, urbana, capitalista e gorda. Só pra efeito de ilustração, no Xingu, os homens são mais poderosos - sem contudo implicar machismo, mas poderia ser compreendido assim pelos nossos valores. Guerra? O maior problema dos Bororo não é a civilização não indígena, mas a dominação dos Xavante, que constantemente escravizam os Bororo. Bem, mas concordo que eles são mais dependentes e sofridos do que nós. E por isso mesmo, é preciso saber ouvi-los para dar audiência às suas vozes.Um abração
Maria Aparecida
OLá Michèle 26/07/2006 16:49Sou Assistente Social e, falamos umpalavreado comum:-educar para mudar,-conscientizar,-levar à participação,-não dar o peixe, ensinar a pescar,etc.A EDUCAÇÃO é a base.Não seria fundamental dirigir forçasconjuntas para o início de tudo: geraruma criança com consciência é importan-tíssimo.Urge, o PLANEJAMENTO FAMILIAR.O que você acha?Só para ilustrar, uma estrofe de meupoema "FLOR DO LODO"
No ventre materno.Fetos tristonhos, ouvem o grito de fomeDos irmão emporcalhados,Inocentes criaturas, do inferno disformeCópias, em série, encalhadas...CIDA LORO
Mi
M.APARECIDA 27/07/2006 07:21Concordo com vc que o planejamento familiar pode ser um forte caminho de construção de cidadania, e por conseguinte, do despertar ecologicamente também. A educação familiar parece ser até mais forte que a escolarizada, pelo menos sinto isso nos posicionamentos dos meus dois filhos. E por isso, é preciso uma guinada política nas políticas de atendimento, em especial às camadas economicamente desprivilegiadas. Sabemos, tanto por vivências, como pela literatura, que os grandes danos ambientais afetam principalmente esta gente. Por exemplo, o maior acidente radiológico de Goiânia trouxe terríveis seqüelas às famílias dos operários. A usina de Manso, em MT, atingiu diretamente os ribeirinhos. Uma política pública de identidade, cuidados e responsabilidade com esta gente, torna-se imperativamente importante.Beijos
Marilene
AGRADECIMENTO 26/07/2006 17:15OBRIGADA PELO CONVITE PARA PARTICIPAR DESTA ENTREVISTA, É A PRIMEIRA VEZ QUE O FAÇO. PARABÉNS A MICHELLE SATO, APRENDI MUITA COISA LENDO SUAS RESPOSTAS. GOSTARIA DE APRENDER MAIS SOBRE A ÁGUA. MUITO SE TEM DITO A ESSE RESPEITO. VAI FALTAR ÁGUA, TEMOS QUE ECONOMISAR. EU IMAGINO QUE PARA ACABAR A AGUA ELA TEM QUE IR PARA UM LUGAR DIFERENTE DA TERRA E DAS NUVENS. PARA ONDE ELA VAI?
Mi
MARILENE 27/07/2006 07:29Os números são impressionantes. Num planeta de 2/3 de água, o que existe é uma escassez absoluta de água POTÁVEL. Apenas 3%, sendo que destes 3%, 1% está nos lençóis freáticos e 1% nas geleiras. Portanto, apenas 1% de água potável disponível para toda a humanidade. As ciências e tecnologias têm tentado inúmeros caminhos para se reverter este triste quadro. E os ecologistas preocupam-se a poluição dos rios, baías e outros corpos da água. Saneamento parece não existir na maioria dos municípios brasileiros e agrava-se mais ainda nossa sede. Este alarde não é sem fundamento, portanto. A aparente abundância de água no nosso planeta deve ser cuidadosamente revista e políticas públicas devem ser melhoradas, se realmente acreditarmos que nosso filhos, netos e gerações futuras irão viver neste planeta.abraços
Luciana
Afirmar o direito de quem é marginal, índios, destituídos,judeus, árabes, seja lá quem for, os que não têm voz, os que não têm acesso à igualdade, à riqueza, à cidadania, à expressão, à cultura, são motivações que merecem respeito.A sua colocação sobre não orientar brancos falando de índios me parece correta. _________________Mitos 26/07/2006 18:25Quais mitos mais a impressionaram?
Mi
LUCIANA 27/07/2006 07:38Eu li um artigo no ano passado que me impressionou bastante. É um sul-africano especialista em história oral. Ele considera que todos nós tenhamos vozes. O que nos difere é o tamanho da audiência. Por isso, temos resgatado as histórias dos povos, indígenas ou aquelas marginalizadas do processo capitalista, para publicá-las junto com eles. Divulgar na academia, reconhecer as identidades e tornar público esta sabedoria dos povos. É um dos caminhos que vejo para dar audiência a estas vozes e incluir as pessoas. No livro que concorre ao 48º Jabuti, por exemplo, tem um capítulo que escrevo junto com um índio pernambucano.Acerca das patentes e direitos, esta ainda é uma trama muito mal resolvida entre ciências e comunidades. Pessoalmente sou contra patentes, não se faz isso com sabedorias da natureza. Entretanto, é bem verdade que a alucinação e a ganância acadêmica competem com as esquinas das dobras epistemológicas, fomentando o lado duvidoso da produção do saber. Estamos na luta ainda, em plena construção de leis e aparatos filosóficos que possam conferir uma ciência mais ética e inclusiva do ponto de vista sócio-ambiental.beijos
Luciana
Pergunta de um amigo, Michèle! 26/07/2006 19:01Dra. Michéle Sato.A convite de uma nobre amiga, sua admiradora, Luciana, para participar desta comunidade com temas sugerindo respostas e observando seus retornos firmes, inteligentes e de alta precisão, gostaria de entrar em sua área de Educação Ambiental e com muito respeito fazer uma pergunta:O que a União,Estados e Municípios brasileiros, vem fazendo em termos de Educação Ambiental junto á população para minimizar a destruição da vida na Terra pelo efeito estufa e o aquecimento global?Sabemos que o progresso não pode parar, mas tem que ser sustentável.GratoJ.J. Monteiro FernandesObservação: meu querido amigo J. J. postou a pergunta em outro tópico e eu trouxe para o fórum.
Mi
MONTEIRO FERNANDES 27/07/2006 07:45A dimensão ambiental é relativamente nova na formulação de políticas públicas. Há inúmeros municípios brasileiros sem uma secretaria que cuide deste nosso ambiente, por exemplo. Entretanto, há uma mudança gradativa na agenda dos nossos governantes, incluindo a proteção ambiental em sua pauta. O Brasil é exemplo de melhor constituição federal, adicionando o artigo 225 em sua Carta Magna. Não é cumprida, é bem verdade, mas há um processo em marcha. Os estados e os municípios tb buscam este fortalecimento e inúmeras experiências são postas na literatura. Em MT, a maior política ocorre através da SEDUC, onde se orienta os Projetos Ambientais Escolares Comunitários (PAEC). Aliando a escola e seu bairro, as políticas públicas enxergam que o ambiente não tem fronteiras e necessitam de cuidados através da participação de outros segmentos da sociedade civil, bem como empresários e populações. A participação parece ser a chave do processo, desde que as políticas possam ser desenhadas com as inúmeras vozes à sua audiência.Grata pelos elogios, é sempre bom ouvir estas coisas.beijos
Vanildo
Pergunta sobre Desperdicio 26/07/2006 21:25Michele Sato,Sou tec.em meio ambiente e a minha maior preocupacao e gostaria de saber sua opiniao a respeito sobre o que poderia mudar na cultura brasileira sobre o aspecto do desperdicio de agua e ate mesmo sobre a quantidade de lixo que levamos para casa ao comprarmos um produto, geralmente ele vem com muitas embalagem extras inulteis que so servem para chamar a atencao e embelezar o produto.Sabendo que a vida utel de um aterro sanitario e curta e a dificuldade de encontrar novas areas e mais dificel ainda.Restringindo alguns tipos de lixos como restos de construcao civil foi uma medida tomada mas nao seria mais interesante sancionar uma lei para diminuir este abusso de embalagens discartaveis.Desculpe por nao haver uma pergunta mais direta sobre o seu trabalho, mais vou procurar conhece-lo.Me envie informacoes sobre seu livro quero comprar.valeu.Um abraso.Meu e-mail - vanildocidral@ig.com.brBy Cidral
Mi
CIDRAL 27/07/2006 07:51Ao lado da preocupação destes desperdícios, e a orientação para um consumo sustentável, é sempre bom lembrar que há populações que nem têm o que comer. As propostas de EA, portanto, devem sempre atentar ao público que destinamos, construindo as propostas de acordo com cada universo e realidade. A orientação de consumo sustentável é imperativamente importante à classe média e rica, muito mais à média que busca ostentar TER, ao invés do SER. Entretanto, há que considerar que este país com ranking no IDH relativamente bom, possui o índice Gini de desigualdade social extremamente alto. A riqueza se concentra em poucas famílias e só perdemos dos países africanos, amargando um 6º lugar em desigualdade social.O livro é: “educação ambiental - pesquisa e desafios”, da Artmed. E você pode encontrar outras referência na nossa página, que oferece textos pra download:http://cgi.ufmt.br/gpeabeijos
Maria Lúcia
Bom dia, Michéle! 27/07/2006 06:33Os livros didáticos estão mais adaptados a nova consciência sobre o planeta? Tem alguma crítica?Um abraço!
Mi
m. LÚCIA 27/07/2006 07:55Livros didáticos... um eterno dilema desde a II Guerra Mundial, onde as primeiras manifestações pacifistas clamavam menos propaganda bélica... Foi meu objeto durante o Mestrado na Inglaterra. E embora os livros didáticos não estejam presentes cotidianamente em aula, como o caso brasileiro, ainda determinam a “qualidade” da educação nestes países ditos ‘ricos’. Retomo o final de minha dissertação, quando enuncio que não existe um livro didático bom ou ruim. O valor de cada texto está na dependência do que o professor aceita em seus princípios. Um bom educador poderá trabalhar um péssimo livro com suas críticas, observações e posicionamentos. Entretanto, um livro jamais fará um bom professor.Um beijo de carinho
Edgar Alejandro
27/07/2006 08:19Criamos um mundo paralelo ao mundo que realmente deveríamos viverVivemos praticamente sitiados, isolados do vegetal, animal, etc. Parecemos uns Ets.O problema da destruição da natureza vem do desconhecimentode nos mesmos, da nossa verdadeira natureza.Daquilo que é a sintonia em si, porque já esta harmonizada.Desculpe mas não acredito que se consiga muita coisaDa maneira como você tenta ou enfoca o assuntoJá teve civilizações sintonizadas com seu habitat, são chamadas de selvagens.Porque seu comportamento é justamente aquele que deveríamos ter...Se possível como exemplo de convívio com a natureza.E estão sendo dizimadas também.Distante demais para voltar e ainda querendo ensinar a queme com quem se deveria aprender.
Mi
EDGAR 27/07/2006 16:37Como disse anteriormente, não acredito na salvação do planeta tão somente pela EA. Tampouco acredito que seja possível “harmonia” com o ambiente. Esta palavra foi inventada pelos gregos para buscar uma aproximação mais equilibrada, talvez jamais conseguida. Entretanto, no mundo das ciências, o Nobel da química, Ilya Prigogine, já nos alertou sobre o caos. Nas dissonâncias, temos mais condições de estudar os sistemas e observar os fenômenos. Com isso, compreender melhor a dinâmica planetária (incluindo a humanidade) no ritmo de equilíbrio e desequilíbrio. Cresci ouvindo que não caçou passarinho ou subiu em goiabeiras não teve infância. Será que toda forma de felicidade está submetida ao contato com a natureza? Sou paulistana da gema, da Paulicéia Desvairada e enfumaçada, da Sampa de violências. Nem por isso, deixei de ser feliz.Não limito a EA à natureza, no meu olhar, ela é mais transcendente, clamando por dimensões culturais ao seu lado. Por isso, não considero que todos nós devamos viver com os povos indígenas para a tessitura da felicidade. Nas pluralidades tribais, sempre haverá uma esperança para se escrever outra história. Haverá os pessimistas como você, ou os otimistas abraçando árvores e contemplando passarinhos. Eu prefiro mediar a invenção ‘otipessimista’ ou ‘pessiotimista’, de que ainda é preciso ter esperanças sem perder a capacidade de indignação. É preciso lutar contra as violências, alimentando os desejos de mudanças. Afinal, o desejo é tropical e o improvável pode acontecer...abraços de esperanças
Além Mar
Olá Michèle 27/07/2006 11:27Acompanhando as perguntas e respostas estou conhecendo um pouquinho desta tua incrível disponibilidade,a que agradeço e muito admiro . Enquanto aguardo aguardando tua resposta ao Edgar e demais colegas, pois minha pergunta é de interesse bastante pessoal ; gostaria de saber se tens conhecimento sobre alguma relação de Deleuze e Henri Laborit e sua obra Elogio da Fuga .Grata deixo a ti e todos participantes meu afetuoso abraço,virgínia
Mi
além mar... 27/07/2006 16:38E TALVEZ DENTRO DO MAR....Tenho trabalhado com Deleuze e Gattari, mas não com Laborit. O elogio da fuga se inscreve na esquizo-análise que me é bastante complicado. Li os 5 volumes d e ‘mil platôs’ - capitalismo e esquizofrenia e ainda tenho muito que aprender neste campo. Gosto mais da ritmo-análise de Gaston Bachelard, que reinventa o círculo atemporal. E trago Camus, em vencer a temporalidade eterna de Zeus na metáfora de Sísifo. Sísifo é condenado por Zeus para empurrar uma rocha no topo da montanha, que fatalmente rola morro abaixo com a ação da gravidade. É um mito do “nadou tanto para morrer na praia” e de todo trabalho gasto sem resultado. Foi o fenomenólogo Camus que recupera o mito, tornando o INSTANTE vitorioso, ao invés da eternidade da fuga. Assim, ele permite que cada descida do morro seja uma vitória contra o castigo. Ao invés de fugir dos erros, encará-los, ou como diria Bachelard, deformar os obstáculos epistemológicos esvaziando-se, para reformar e transformar no transbordamento. E claro, fugir é bom de vez em quando... Mas deve ser um instante (e não eternidade), para retornar à luta e assumir nossa esquizofrenia.
Mano
27/07/2006 13:13Michéle: responda com sinceridade: você acha que ainda tem volta? Isto é, que existe posiibilidade dessa situaÇÃO SE REVERTER? ÁS VEZES, QUANDO VEJO FRIAMENTE O QUE ESTÁ ACONTECENDO, NO LÍBAMO, NO IRAQUE, NO BRASIL, EM TODA PARTE, ÁS VEZES PENSO QUE VALE A PENA LUTAR, SIM, MAS É UMA LUTA SEM ESPERANÇAS, QUE É DAÍ PRA PIOR. NÃO VEJO NO HORIZONTE NADA QUE ME ACENDA UMA ESPECTATIVA CONTRÁRIA. Ã NÃO SER BLABLABLÁS POLÍTICOS, VELEIRDADES INTELECTUAIS, JOGUINHOS DE PODER. ENQUANRO ISTO, O PLANETA ESTÁ SE FUDENDO....
Mi
ORRRRRRRA MANO... 27/07/2006 16:39Respondo através de um trecho modificado de um texto, quando arriscadamente, fiz uma pequena biografia de minhas identidades enquanto educadora ambiental.Um beijo de fraternura, agradecendo sua participação.===========Na narrativa da época de Júlio César, havia uma pequena aldeia que resistia ao império romano. Certo dia, estimulado pela arrogância da conquista, o imperador levou seu exército ao local determinado ao extermínio, mas presenciando pedaços de paus e pedras como únicas armas da resistência, percebeu que a batalha já estaria ganha e perguntou ao jovem que lutava bravamente com uma minoria:- Você acha mesmo que tem alguma chance de vencer esta guerra?E o jovem respondeu:- É provável que não. Entretanto, para mim, o importante é mostrar de que lado eu estou.Assim como os moradores deste pequeno vilarejo, e no ritmo e pausa deste compasso, meu desejo é fazer emergir um movimento circular, onde os perdedores das armas nem sempre são derrotados da esperança. Ainda que muitas vezes eu não saiba discernir a paisagem externa da interna, porque a intersecção causa certa cegueira, reconheço o caos e a dificuldade da luta. Entretanto, aprendi com Orides Fontela que não importa a colheita. Semeio sóis e estrelas, e nos momentos de lesões pelos espinhos, aprendo a retornar incompleta na dinâmica das estações, pois o exercício da EA é uma aprendizagem da liberdade, e que certamente permitirá ir além de mim mesma.
Tiago
Michele 27/07/2006 13:25Primeiramente quero dar a todos uma Boa Tarde... É por bem de minha formação acadêmica prezada Michele lhe perguntar:Vc enxerga Deus na Literatura? se enxerga em que ponto de partida vem sua percepção...Soli Deo Gloria
Mi
TIAGO 27/07/2006 16:43Qual Deus vc se refere? Dependendo de qual Deus vc se refere, posso enxergá-lo...Beijos espiritualizados e agnósticos, porém não religiosos.
Elida
27/07/2006 14:20Dentro da Educação Ambiental, qual seria para você o desafio mais difícil?
Fale sobre a Educação Ambiental dentro de casa... alguns conselhos ou algum alerta para nossos pequenas falhas do dia-a-dia.
Mi
27/07/2006 16:44Puxa, esta é uma pergunta que mereceria um Tratado para responder. Mas acredito que talvez esteja na mudança de estilo desenvolvimentista. O atual é perverso e faz muitos estragos...abraços ecologistasacho que não respondi a segunda pergunta, sobre questões cotidianas da EA. Acredito que usar frente e verso das folhas, imprimir só o necessário, tomar água no mesmo copo algumas vezes ao dia... separar lixo e amassar latinhas de Al, ouvir músicas e se inspirar na poesia da Lu... Abraçar meus filhos, ir ao cine de vez em qdo (assisti piratas do caribe com eles ontem)... Enfim, gradne e pnos gestos, que tragam aspectos culturais, morais, pedagógicos e ambientais... talvez seja aminha vida cotidiana, que percebo como educação ambiental.beijos
Denise
27/07/2006 14:48Profª Michele, considerando a idéia de educadores coletivos, como você avalia o papel da mídia nessa jornada?
Mi
DENISE 27/07/2006 16:47De forma muito consistente, a comunicação hj se alia à educação. Educomunicação sócio-ambiental, diz minha orientanda jornalista super talentosa. Seu trabalho é muito bonito, interpretando os olhares dos moradores de Mimoso, uma pequena comunidade no Pantanal, acerca das matérias dos principais jornais de circulação. Todo comunicólogo é meio educador e vice-versa, portanto, acredito que esta aliança é muito necessária e oportuna.beijãoEstamos com projeto de coletivos educadores aqui em MT, Denise, e já começamos nosso curso de formação na semana passada. Mais de 70 pessoas iniciam esta ciranda neste momento, e teremos mais um curso brevemente, que possa agregar o pessoal do interior. Na nossa página tem informações detalhadas sobre isso. Acreditamos nos sonhos coletivos, pq se roubarmos a esperança, perderemos o que há de mais belo na nossa humanidade.Um beijo de ternura
J.J.
Poluição Ambiental 27/07/2006 16:01Dra.Michéle SatoAnualmente , a humanidade joga no lixo 30 milhões de toneladas de detritos,o equivalente a mais ou menos 1.000 toneladas de lixo por segundo produzidas na Terra.Falando-se de Educação Ambiental especialidade da dra., o que o Brasil está fazendo para o povo poder dar seu apoio e evitar maiores riscos de contaminação do ar e do solo?J.J.
Mi
JJ 27/07/2006 16:53Quase DJ...O Protocolo de Kyoto foi assinado pelo Brasil, mas infelizmente temos cumprido muito pouco nesta tarefa. Saneamento básico é uma luta dos gestores, mas há uma lei que impede financiamento se a prefeitura tiver uma única dívida. Na nossa realidade, qual é a que não possui? Os cientistas tb fazem sua parte, mas há sempre escassez de financiamento nas pesquisas. Eu não trabalho com poluição, mas vou contar que tenho um amigo da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, que tem tentado sensibilizar a população através das representações sociais sobre os agravos da poluição atmosférica. No desastre do Prestigie, com derramamento de óleo nas costas galegas, suas proposições de EA para minimizar este impacto foi, minimamente, EMOCIONANTE. No livro em questão, tem um capítulo dele sobre estas dimensões. Valeria a pena vc ler para tentar enviar sugestões. É sempre bom um olhar “estrangeiro” para poder avaliar nossos limites e, assim, superá-los.um forte abraço
Ana
Ecologia- Inclusão Social-Cidadania-Educação 27/07/2006 16:10Encantada estou com os diálogos aqui ocorridos.Prof Michele, Luciana e demais participantes : Parabéns, é assim que construiremos um Brasil melhor, lidando com seriedade , serenidade , e com poesia,as questões Nacionais que precisam de forma urgente serem revistas.Ecologia /Inclusão Social,vejo como dois lados da mesma moeda.Cidadania/ Educação,também são dois lados de uma mesma moeda, uma não ocorre se nâo existir a outra.Um grande abraço "verde e amarelo" a todos!Ana Pimentel
Mi
ANA 27/07/2006 16:55Obrigada Ana, morando fora muitos anos deste país, sou 110% verde e amarela. Morei 5 anos na Inglaterra, depois Canadá e depois Quênia. Tanto em países ricos como pobres, estou convicta de que este é meu lugar. Meu Brasil bonito que se depender de minha vontade, será feliz - país cidadão, inclusive, justo e protegido ecologicamente.Um fortíssimo beijo de paixão

Maria
Moore 27/07/2006 16:57Recentemente, vi o filme "Tiros em Columbine", que me impressionou muito. Esse filme premiadíssimo com o Oscar, critica o militarismo americano, inclusive no que tem de agressões à Natureza. Inclusive, numa pequenina cidade, uma criança de 5 anos, atira e mata outra, também de 5 anos. Todos os jornalistas acorreram para noticiar o fato. Porém, o fato mais importante, se não estou confundindo, ninguém viu: é que não se via um palmo além do nariz com a poluição do ar encobrindo a paisagem montanhosa daquele lugar. Quando o Moore chama a atenção dos colegas para esse fato, todos dão risadas. Quer dizer, ninguém ainda atentou para as consequências das agressões à Natureza. Agredir a Natureza é agredir o próprio Homem? Saludos. Maria José Limeira.
Mi
Moore 27/07/2006 17:37Se humano se faz natureza, acredito que sim. Agredimos a nós mesmo quando agredimos a natureza. Tenho trabalhado com filmes na EA. Se vc desejar ver um pouco, na nossa página tem uma apresentação em PPT - acho que é o primeiro de todos. Se gostar de Sebastião salgado, há dois clipps interessantes. Demora um pouco, mas dá pra dar download neles.www.ufmt.br/gpease nao abrir, tente pelo google: ufmt+gpeanosso servidor tem problemas, às vezes.Um abraço cinematográfico
Roger
SOJA AMAZÔNICA 27/07/2006 17:49Não sei se já perguntaram aqui, mas gostaria de conhecer o posicionamento da estimada professora Michele quanto as formas de combater o avanço do plantio de soja em território amazônico, contribuindo ainda mais com a devastação da nossa já estrupiada floresta.Além disso, aproveitando para uma pergunta 2x1, como você vê este recente boicote promovido por empresas européias que deixaram de comprar a soja brasileira plantada na amazônia? Seria apenas marketing para aparecer ou o boicote é sério?
Mi
ROGER 27/07/2006 18:15É muito difícil ser ecologista num estado como MT, Roger, e principalmente qdo se tem um governador que é o maior plantador de soja particular deste mundo. São desafios constantes que nos assustam, muitas vezes, mas que jamais nos abatem. Há cerca de 1 ano atyrás, dei uma entrevista sobre os madeireiros e as plantações da monocultura. A maioria foi censurada e apenas um jornal circulou a matéria. Resultado? Um telefonema ameaçador que me deixou paralisada uns 3 meses... com ajuda da comissão dos direitos humanos e toda forma de polícia, chegou-se a um orelhão, porém não ao autor desta ameaça. Os amigos forma espetaculares, dando divulgação ao fato pra minha própria proteção. Não fossem estes amigos, a luta ficaria muito mais árdua neste campo enorme de soja e queimada da vida...Triste isso... ufa.o boicote pode ser de dupla mão: boicote à soja brasileira em função da competição do mercado, ou a sociedade civil ajudando na pressão dos anos eleitorais. Para quem morou mto tpo fora do Brasil, acredito ser demagógico dizer que os ricos são mais conscientes do que nós. Há uma luta econômica por trás de fatos estranhos...é delicada esta questão política... mas não estou dizendo que todos são perversos, nas ciências, é possível generalizações e não particularizações.
J.J.
Meio Ambiente. 27/07/2006 18:59Dra. Michéle-Entendi sua resposta e agradeço. Lembro também que o Brasil com a Constituição Federal de 1.988 em destaque o Capítulo VI. Do meio ambiente,art.225, vive o advento de uma nova era na questão ambiental, com uma legislação cada vez mais rigorosa e consumidores sempre mais exigentes.Em termos de educação ambiental está havendo algum movimento esclarecedor que atinja a juventude escolar e todos os brasileiros?Acho que o Brasil deveria paralelamente á legislação educar o povo sobre todos os aspectos ambientais não sustentáveis e fornecer informações do seu planejamento de ações ambientais.Aguardo seu parecer.Grato J.J.
Mi
JJ 27/07/2006 19:27A lei da EA, 9795-99 garante a EA em todas as idades, modalidades e níveis. Embora difusa, os coletivos jovens dos estdaos têm se desempenhado bem nesta área, agregando jovens e fortalecendo sua participação em instãncias políticas mto favoráveis. Apoiados principalmente pelo MEC, eles se organizam e ampliam esta ciranda de protetores ecologistas. Realizaram 2 gdes conferências nacionais, esta última com divulgação internacional. Tenho atuado com eles, e gosto muito da participação deles ao processo.Um beijão amigo
Luiz
Professora 27/07/2006 20:10Não lhe farei perguntas, só iria interromper o andamento de suas belas falas. Sou poeta, professor frustrado por não ter exercido a plenitude do ofício, jornalista, poeta. Como você, adoro Educação e entendo que educar, hoje, seria converter o ensino médio num curso de quatro anos de ciência humanas, com ênfase para História, Geografia (nada de sociologia, que me soa sempre falso e como instrumento de doutrinação de maus professores voltados tão-somente para os propósitos partidários cada vez mais nefastos), Filosofia, Literatura e línguas, com boa carga da Língua Portuguesa, além de Educação Ambiental (ciências biológicas e exatas, a universidade as desenvolveria).Peço, pois desculpas por interromper, e o faço tão-somente para me justificar ante o convite da Luciana. Quero dizer-lhe, Professora, que estou encantado com suas respostas e espero que venha a angariar o Jabuti, não como apenas um troféu, mas como instrumento de informação midiática para atrair atenções sobre as causas que a Sra. tão bem defende e tão bem representa. Meus cumprimentos.
Mi
LUIZ 27/07/2006 20:40Mas se for para interromper com tanta elegância, interrompa sempre! Você parece ser muito crítico e agradeço suas palavras. Em relação ao prêmio Jabuti, já me sinto premiada em estar na finalíssima. Esta inesperada indicação foi emocionante e muito surpreendente. Só quando fui informada é que tive a curiosidade de navegar na internet para se conhecer melhor a proposta. Antes, era uma premiação distante, jamais imaginada...Um abração de fraternura
Neralci
27/07/2006 20:25Dra. Michéle:Depois de um curso superior concluido(ADM- UFRJ), passei para o curso de Ciências Sociais na UFBA-(após 26 anos sem estudar academicamente)Gostaria de saber como ter êxito, aqui em Salvador, com a criação de um grupo de jovens- coletivos jovens?
Mi
NERALCI 27/07/2006 20:40Eu participo do coletivo jovem nacional e de MT. Talvez vc possa dar uma explorada para ver se encontra alguém da Bahia. De qualquer maneira, ainda que não exista uma comunidade no orkut, certamente existe por aí. Recomendo que vc busque na SEDUC-BA ou nas secretarias municipais de educação, que foram parceiras deste processo de formação de coletivos jovens em todos Brasil. Um beijohttp://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4116644
Iclea
Um toque com Michele... 27/07/2006 20:39Michèle,ma cher...Sabendo que se apinha cada vez mais gente,crescendo como cacto,uns sobre os outros e cada vez mais...E produzindo sobre uns e outros,cada vez mais estresse e cada vez mais...E gerando mais agressividade e violência,cada vez mais...Provado por experiências em Etologia,cada vez mais...E sabendo ,que ,em Proxêmica,cada vez mais se comprovam, que homens e bichos são(oh! meu Deus,parecidos),cada vez mais...Como os estados e as políticas podem impedir (ou dirimir) que não se desgrace a vida na face das nações... cada vez mais ?... Beijo você...
Mi
ICLEA 27/07/2006 20:51Iclea querida, e amiga de sonhos educativos, assim como você, aposto na mediação pedagógica que possa transformar esta dura realidade. Alguns dirão que sou sonhadora demais e que minhas utopias são devaneios intelectuais sem fundamento. Paulo Freire também assim foi criticado. Einstein refutado em suas primeiras observações sobre relatividade. Gandhi assassinado pelos seus ideários políticos da paz. Claro que não me comparo as estas grandes personalidades, mas aposto no processo educativo de mudanças. Homens, Mulheres e tantos quantos outros gêneros vierem serão bem-vindos para que jamais se perca a esperança nesta humanidade. Que o ato pedagógico da libertação possa construir nosso devir, pois o que podemos ser parece ser mais essencial do que somos. Portanto, para além do ontológico, a magia dos sonhos por aquilo que poderemos a nos tornar! Hoje e sempre!Obrigada por participar, fico feliz que uma colega de área esteja por aqui!
Iclea
tréplica 27/07/2006 21:18Michèle,ma cher... Insisto em minha questão dolorosa...:como salvar o mundo de seu apinhamento demográfico e de sua resultante torrente de vilência e destruição?...
Mi
ICLEA 27/07/2006 21:44Não tenho nenhuma pretensão de salvar o mundo, se o soubesse já teria feito há tempos... Luto com vc para descobrir, e descobrindo, faço... refaço e me desfaço... para me refazer novamente, uma vez, outra e uma vez mais... sempre na luta. Devolvo a pergunta para qualquer outro membro aqui participante. Se não for pela luta cotidiana de nossos sonhos, não teremos resposta a ser dada, e propor perfumes ao invés de espinhos, cores no lugar de violências.Só uma coisa talvez possa responder: não acredito que o 5º país em extensão territorial, com 170 milhões de brasileiros tenha a demografia como problema ambiental de primeira ordem. Colocar todos os brasileiros no estado do Rio, por exemplo, poderá ser um sério problema. É o que enfrenta o Japão, um discurso demográfico necessário. Não acredito ser este o nosso caso, senão localizado nas chagas da exclusão social, impiedosamente bombardeada pelos danos ambientais. Direots, cotidianos e que pedem nossa ajuda.Um super boa noite para vc e todos.
Além mar
27/07/2006 22:56Michele grata por responder-me .Deleuze é bem difícil mesmo. Uma alegria encontrar ressonância em tuas palavras e a aberura que propôe . Sim que busquemos aprender a presentificar-nos através da vivencia do Sísifo alegre. Que um maior número possa reconciliar os opostos de si . em direção ao "homem das 24 horas " Bachareliana,que Apolo e Dionísio coexistem. Que possamos ser agentes , catalizadores de ousadias capazes de ir além , além do que nós próprios podemos imaginar é neste sentido que venho trabalhando a minha clínica . Pois que ao mar! Ao mar da linguagem evoquemos maior número de singularidas a confraternizar e compartilhar sua poésis , seus devires ." A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente ! " (A. Camus)Grata pelo espaço para este salto e vôo livre !Afetuoso abraço a ti e 'a todos os colegas
Mi
mar e amar 28/07/2006 08:46À MAGIA DO MARCaos e harmonia; belo e feio; fêmea e macho; explosão e clamaria... E tantos outros pares binários que Magritte representa bem na sua tela, conferindo noite e dia numa só pintura. Isso é bem Bachelard, não é? No cientista diurno que fala da Einstein, e no poeta noturno que ousa a arriscada viagem onírica da aprendizagem.Sua mensagem me faz lembrar que a Luciana perguntou qual mito me marca mais. Gosto de muitos, entre Sísifo e outros gregos. Mas encanta-me uma daqui do Pantanal, sobre uma baía com o nome de uma mulher: Mariana. Negra apaixonada por um branco, cuja sociedade racista destruiu um belo amor carnal. Mas ela se encantou nas águas da baía para que o amor espiritual pudesse ser celebrado sob as águas pantaneiras.Um mágico beijo de a-MAR.
Tiago
Michéle, 28/07/2006 03:42Ok... entendi!então qual deus vc enxerga na Literatura?Soli Deo Gloria.
Mi
TIAGO 28/07/2006 08:47Não apenas um, mas alguns. Ao lado de deusas, temperam as paixões, sopram brisas contra ventanias... Aceitam que cada qual tenha sua própria cosmologia, fugitiva, muitas vezes, porém presentes. Deuses e deusas que para além de poderosos, sabem dialogar na perspectiva da simetria, permitindo a proximidade de todos os demais mortais. São líderes, sobremaneira, e não chefes impostos por dogmas que não possam ser contestados.São criaturas da noite, do entardecer e também dos orvalhos das manhãs, permitem as danças das ninfas de Degas, nos bosques encantados de Cézanne. E também acolhem a surrealidade de cada ser, com o pulsar entre erros e acertos. Serão meus deuses, demasiadamente humanos? Bem, Tiago, sou filha de pais japoneses e zen-budistas. A tendência religiosa em minha educação não foi cristã, mas budista. Entretanto, não tenho religião, embora oriente um doutorando que tenta buscar a força dos padroeiros nas festas religiosas e sabedorias da natureza. E ainda ter um outro orientando negro, que alia os seus orixás da umbanda para compreender hermeneuticamente o simbolismo das águas doces, que para ele, se configura como Oxum. Como vê, os deuses estão presentes no meu trabalho, e são plurais.Abraços de diversidade para você.
Gean
28/07/2006 04:37Bom dia Michèle,moro em Guarulhos-SP, 42 anos,tenho uma pequena lanchonete e o assunto que me pertuba e angustia na cidade grande, fora a questão da violência é o lixo! No meu caso, separo papelão , pet, aluminio das latinhas e vidros para as pessoas que recolhem este tipo de material, mas fora isso a quantidade de lixo produzido só na minha casa é de preocupar! tenho a impressão que nossa civilização será 'soterrada' pelo lixo ! Uma amiga ,(ela é professora) que foi fazer um 'curso' sobre preservação da água em 'Furnas'me falou que o grande vilão do lixo atualmente é a fralda descatável...O lixo é um problema tão terrível ou estou exagerando?Desde já ,quero agradecer sua gentileza em respoder. Obrigada.Li todas as sua respostas e estou gostando! Parabéns pela clareza ao expor o que pensa!
Mi
: GEAN 28/07/2006 08:47Passo muito no aeroporto, cujas aeronaves imitam o espírito do MacDonald, tudo mais descartável, consumista e exagerado no uso de copos e pacotes. Imagino o trabalho que você ter em separar tudo. Parabéns pela tarefa cotidiana, que pode ser inócua, mas que traz uma enorme grandeza. Em relação às fraldas, há uns 3-4 anos, tivemos um doutorado em Londres, e o candidato provava que a fralda de pano trazia muito mais impactos do que as descartáveis. Utilizando de cálculo energético, comparou bebês dos EUA, Suécia, Brasil, Índia, Nepal e outros que não me lembro agora. Em termos energéticos, e não apenas de resíduos, os impactos destes bebês são terríveis... Vale sublinhar, entretanto, que os bebês não falam, nem pedem para consumir, senão seus próprios pais. Por isso, a EA deve estar em todos os níveis e idades. Muita gente acredita na EA só com crianças, mas os adultos merecem também esta formação processual. Por isso, a aliança entre a escola e comunidade, bem como a educação escolarizada e popular, deve ser sempre orientada.Um abraço
Luciana
Michéle 28/07/2006 06:39Uma das passagens mais cativantes da literatura é quando, diante de crises e tormentas no meio do oceano, no livro "O homem que ri," de Victor Hugo, um dos personagens diz-nos: "Ver o mar apenas como uma massa d' água é não ver o mar" (Hugo, s.d., p. 135).Acho interessante essa tentativa de ver além dos nossos estreitos horizontes. Ver além do que que é dito, não-dito...Iniciando uma caminhada noturna com Bachelard, cheio de rupturas, busca de oxigênio... fico curiosa para saber mais sobre sua aproximação com as idéias dele. Pode falar sobre isso?Obrigada, minha querida!Você nos encanta com sua cordialidade, com sua sabedoria.Abraço!
Mi
LU 28/07/2006 08:47A água, para Bachelard, é a origem de todas as demais coisas, é o infinito mais completo dos 4 elementos (ar, água, terra e fogo), o espelho universal do interior. É o olho que vê o cosmos, mas também o Narcíseo. A água doce (feminina - dócil) é incompleta sem a salgada (masculina - violenta); Através dos 4 elementos, Gaston Bachelard enuncia a percepção dos sujeitos situados no mundo. Resgata lendas e mitos de origem grega na sua interpretação do infinito, oferecendo enormes contribuições para que as ciências não se configurem como a única verdade universal. A função dos arquétipos soa como reserva do entusiasmo para amar o mundo. Acredita que para sonhar, é preciso abandonar os objetos e fixar na matéria (physis: natureza) contida nos 4 elementos. O conceito de physis vai além da natureza, mas assume a condição sobrenatural como no encantamento semiótico. Bachelard cita Claude Monet como pintor das águas. Suas ninfeas são bem representadas. O fogo é Marc Chagall, mas eu prefiro Van Gogh. A terra é representada por Simon Segal, mas meu preferido é Dali. Finalmente, o ar que movimenta os demais elementos traz o escultor e arquiteto Eduardo Chilida, nos olhos Bachelardianos. Para mim, indiscutível e apaixonante, é a representação pelas obras do meu surrealista preferido: René Magritte. Um impressionista, um expressionista e dois surrealistas são meus olhos aos 4 elementos de Bachelard.Beijos surrealistas
Edgar Alejandro
28/07/2006 07:46Professora Michele, creio que não se falou em felicidade vivendo com a naturezaPois sabemos muito bem que já teve povos antigos vivendo em contato direto com a mesma e guerreando e se destruindo, esta se falando de um sistema criado oposto a Natureza e a sua harmonia (e não importa se essa palavra foi inventada pelos gregos ou troianos) ela existe por si na natureza a pesar nosso, esta aqui antes de nos e ainda que não se acredite sabe se defender muito bem das agressões.A esperança e algo inato nas pessoas vivas e não se trata de ser pessimista ou positivista ou negativista, e simplesmente ver esta grande bola humana com um desejo de consumo gritante e desordenado e as maiores potencias em contra a proposta de nobres pessoas como Você. Pelo qual a parabenizo.Como bem identificou a dona Icleia em sua pergunta, a sua resposta confirma o pessimismo, que na realidade não o é e sim realismo.Distantes me refiro de nos mesmos, voltar o homem para sua verdadeira natureza seria voltar para si mesmo, porque em si já esta a satisfação ou felicidade se quiser, e quando um homem esta satisfeito ele é pacifico e coerente com tudo o que o rodeia sem necessidade de alguém ensina-lo. Grato.
Mi
Edgar 28/07/2006 08:48Nietzsche diria que a palavra é uma invenção da elite, e antes de ser signo, impõe uma interpretação. Meu mestre PFreire afirmava que não é uma questão de semântica, senão de campos ideológicos expressos nas palavras que solicitam por uma compreensão. Faz uma enorme diferença histórica se gregos ou troianos, portanto. Não sei se sou realista, prefiro ser surrealista. O surrealista prefere a metamorfose do que ter “a velha opinião formada sobre tudo”. Para além do visível real, haverá liberdade para interpretar o trabalho subterrâneo da palavra. Alguém afirmou que não haveria solução, pode ser... Só não entendo porque existe uma cobrança da salvação do mundo, ou da resolução de problemas, somente à EA. Não sei no que você trabalha, mas não vejo ninguém fazer isso com os matemáticos, literários ou artistas. Penso que é uma ciranda coletiva, onde todos são responsáveis e não tão somente aqueles que se inscrevem na dimensão ambiental. Não tenho o veredicto final da palavra, mas ter esperanças parece soar como uma transcendência, e pode assinalar o desejo impetuoso da revolução, num território coletivo da heterotopia em se tecer, tramar e fiar a esperança da Educação Ambiental.Um abraço fraterno para você!
Mônica
28/07/2006 08:49Prof.Michèle,Tenho imensa satisfação em participar desta comunidade e da entrevista, que vem nos enriquecer com seus conhecimentos e experiências.Para mim, EA é um assunto em voga, mas confesso que nunca conheci ninguém engajado realmente. Alguns ecologicamente quase corretos, e outros somente bem intencionados. Falando o português claro, gente que faz está em falta!*MINHA PERGUNTA*Gostaria de saber se no Brasil a Área Ambiental é um terreno perigoso demais por bater de frente com questões econômicas, ou se na sua opinião, fatos como o telefonema macabro que recebeu tendem a não acontecer mais, e sim poderemos ter um aumento geral do interesse e das ações ambientais.Obrigada por sua atenção, e desejo de coração que realize seus objetivos, e porque não dizer, objetivos de todos nós.Abraços
Mi
M^NICA 28/07/2006 12:18Oi Mônica,Não, não creio que temos este perigo. Penso que é o contrário, o mundo espera de nós, brasileiros, a guinada ambiental e política desejada. Uma parte industrializada já nem tem mais natureza. Visitei o bosque do Robin Hood, por ex, e há uns 5-6 carvalhos pousando de floresta... A Amazônia é a menina dos olhos, embora não tenha o perigo de sua internacionalização em função daquilo que chamamos de soberania de uma Nação. Os países pobres também nos aguardam, com mais cuidado ambiental. O último relatório da ONU condenou toda África, e na América do Sul, só restou o Brasil. Então nosso compromisso é enorme frente ao mundo. O discurso de Desenvolvimento Sustentável assola os segmentos, entre empresários, sindicalistas, ambientalistas, estudantes e pessoas em geral. Um consenso meio hegemônico, considero, e não gosto muito. Como disse antes, é o mesmo velho capitalismo, hoje revestido e maquiado com outro codinome. Isso implica dizer que o lado mercadológico ainda impera na pauta das agendas nacionais e internacionais. Há uma face ambiental, por certo, mas ainda engatinhando e com poucas vitórias, propriamente ditas. Enfim, uma enorme luta ainda em pleno processo de maturação. Obrigada pelas palavras, são estimulantes ao caminho adiante.
Tiago
Michèle 28/07/2006 09:39Ok entendo perfeitamente...Com relação a crenças e a diversidade delas respeito... mas nas belas linhas da literatura sinto falta de algo sólido entende? O que é fé? onde estão postas nossas convicções... anseios, realidade...?Quero deixar claro que não estamos aqui fazendo uma crítica ou colocando vc na parede... só quero "sugar" um pouco de sua experiência acadêmica e de vida...Cordialmente,Soli Deo Gloria.
Mi
Tiago 28/07/2006 12:24acho suas perguntas muito pertinentes e consistentes e em momento nenhum me senti na inquisição. Estamos todos aprendendo e crescendo por aqui... Sobre suas buscas na solidez teológica, se vc ler o Steve Howkins, aquele físico renomado, verá que no final de seu livro, sua busca científica se resume em DEUS. Acredito assim, que ciências e religiões se dialogam e se complementam e não na necessidade de confronto, exceto, talvez, na teoria Darwiana da seleção natural e da bíblica de Adão e Eva. O que importa não é o debate de acreditar ou não, ter fé ou não, mas de como ‘com-vivemos’ nesta diversidade. Não basta apenas dizer que se respeita, mas permanecer longe. Precisamos saber realmente vivenciar estas diferenças. Haverá conflitos, certamente, e eis aí novamente a mediação pedagógica capaz de promover diálogos. E talvez haja rupturas, e teremos que estar preparados para enfrentá-la.Um beijo
Luiz
NÃO RESISTO! 28/07/2006 09:42Vou me intrometer novamente: esta entrevista está tão substanciada que e atrevo a propor à sua organizadora, bem como à entrevistada, que tudo o que aqui foi dito se trnasforme, depois de devidamente editado, num livrinho volumoso e valioso para os interessados no tema.
Osvaldo
Concordo 28/07/2006 10:35Magnífica idéia Luiz!abs
Mi
Um livro... 28/07/2006 12:28Luiz e Osvaldo, o que posso prometer é que fique arquivado na minha página, seção nova de fórum. Quanto ao livro, acredito que seja mais difícil... Se conheço bem as políticas editoriais, teremos trabalho de convencer que isso pode ser ‘vendável’... Triste panorama, não é? Mas ultimamente a tônica tem sido esta... Enfim, tomo como elogio e agradeço sua intervenção.Aliás, retomando sua questão prévia, em relação ao ensino médio, creio que para esta transformação que sugere, teremos que modificar todo ensino formal. As universidades, principalmente, são as mais duras de mudar. Engessadas em sua arrogância científica, temos tentado mudanças por aqui também, sem muito sucesso.Um forte abraço
Camélia
MICHÉLE 28/07/2006 14:13A entrevista está mesmo empolgante.E as respostas muito interessanteas.Por isto vou fazer mais uma perguntinha a respeito de algo que vem me preocupando bastante ultimamente;Sabemos que os principais desafios da humanidade são:reduzir a pobreza,fornecer água potável para todas as cidades,diminuir a poluição,fornecer energia.Entre todos estes problemasvocê acha que o mais grave seria a respeito da água? O risco de faltar água potável no planeta em poucos anos?
Mi
CAMÉLIA 28/07/2006 14:43Acabei de postar uma msg na lista em resposta a um artigo de Washington Novaes, que informa que o Arquipélago de Vanuatu - 83 ilhas no Pacífico, com 209 mil habitantes, possui o mais alto índice de felicidade do planeta. Os seus habitantes conseguem levar uma vida sustentável, com proteção da ecologia e cultura local. Na intrincada teia da vida, parece ser bem difícil responder qual é o pior problema, pois o dilema acaba de tornando falso. Uma coisa está na dependência da outra, se entrelaçam cá e acolá e se expressam solicitando uma olhar mais complexo de consideração. Entretanto, a água é preciosa. Não apenas para se matar sede, para manutenção da higiene ou por ser fonte de alimentos. Mas porque implica em cosmogonias culturais e sociais de enorme envergadura: a água do batismo, as águas de Iemanjá, os diversos parques aquáticos, a água de tantos outros rituais que intrinsecamente se conecta com outras dimensões... Vive-se sem eletricidade, suporta-se a poluição, mas a tal água... Para os Xavantes, nosso planeta se chama “Água”, pelas porções que Guilherme Arantes canta tão bem, e não pelo viés antropocêntrico das porções onde os humanos vivem. Mas o que seria deste planeta água se não tivéssemos a energia solar? E se toda camada de ozônio permitisse a entrada de raios ultravioleta para lesar nossos códigos genéticos, originando monstruosidades inesperadas pela ausência de oxigênio? Dizem que a carta do índio Seatle nunca existiu, mas serviria como luva para ilustrar que tudo tem conexão com tudo e com todos...
Osvaldo
Carta do chefe Seatle (1854) 28/07/2006 15:39“O presidente, em Washington, informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é possível comprar ou vender o céu ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los?Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto brilhante do pinheiro, cada porção de praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo.Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte desta terra, e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei e o homem pertencem todos à mesma família.A água brilhante que se move nos rios e riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão lembrar-se de que ela é sagrada. Cada reflexo espectral nas claras águas dos lagos fala de eventos e memórias na vida de meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do meu pai.Os rios são nossos irmãos. Eles saciam a nossa sede, conduzem nossas canoas e alimentam nossos filhos. Assim, é preciso dedicar aos rios a mesma bondade que se dedicaria a um irmão.Se lhes vendermos nossa terra, lembrem-se que o ar é precioso para nós, o ar partilha seu espírito com toda a vida que ampara. O vento, que deu ao nosso avô seu primeiro alento, também recebe o seu último suspiro. O vento também dá às nossas crianças o espírito da vida. Assim, se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão mantê-la à parte e sagrada, como um lugar onde o homem possa ir apreciar o vento, adocicado pelas flores da campina.Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é nossa mãe? O que acontece à terra acontece a todos os filhos da terra.O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. _________________28/07/2006 15:40Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que ele faça à rede, fará a si mesmo.Uma coisa sabemos: nosso deus é também o seu deus. A terra é preciosa para ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador.O destino de você é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens, todos domados? O que acontecerá quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens e a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão as matas? Sumiram! Onde estará a águia? Desapareceu! E o que será dizer ao pônei arisco e à caça? Será o fim da vida e o início da sobrevivência.Quando o último pele-vermelha desaparecer, junto com sua vastidão selvagem, e a sua memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a planície... estas praias e estas florestas ainda estarão aí? Alguma coisa do espírito do meu povo ainda restará?Amamos esta terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Assim, se lhes vendermos nossa terra, amem-na como a temos amado. Cuidem dela como temos cuidado. Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando a receberem. Preservem a terra para todas as crianças e amem-na, como Deus nos ama a todos.Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra. Esta terra é preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal, somos irmãos”.
Mi
MUITO OBRIGADA OSVALDO! 28/07/2006 16:34Estudiosos dizem que esta carta nunca foi escrita pelo cacique Seatle, senão por um grupo de teatro, que ao dramatizar a degradação ambiental popularizou esta carta. O mais impressionante desta história é que a carta tomou vida própria e tocou inúmeros corações, sensibilizando as pessoas à questão ambiental, bem como denunciando o capital sobre o desenvolvimento. Talvez não tivesse este nome, mas certamente foi um alarme ecologista clamando outros valores. Meu sonho, talvez um dia, é escrever algo que tome vida própria... já pensou, as pessoas se apropriarem de nossos textos dando vida a ele? Deve ser bárbaro...
J.J.
Impactos ambientais 28/07/2006 15:59Dra Michèle (amiga)Os impactos ambientais são democratizados. Atingem todos os homens, sem distinção econômica, social ou cultural. Afetam ricos e pobres, operários e patrões, brancos, negros e amarelos, desenvolvidos e subdesenvolvidos, capitalistas e socialistas, liberais e conservadores.Quais as medidas de educação ambiental que nosso país vem tomando para esclarecer o povo sobre a tomada de consciência, pela primeira vez na história, da possibilidade de destruição do próprio homem, com alguns dos impactos como o efeito estufa e o aquecimento global?Agradeço seu parecer e um bom final de semana.J.J.
Mi
JJ 28/07/2006 16:34No plano federal, um decreto une o Ministério do Meio Ambiente (MMA) com o Ministério da Educação (MEC), criando o órgão gestor, responsável pela Política Nacional de EA, basicamente através da 9795-99. Além disso, o lançamento do Programa Nacional de EA (ProNEA), ambos através de ampla consulta e participação dos educadores ambientais de todo Brasil. Em níveis estadual e municipal, cada qual vem se articulando e criando mecanismos próprios, com estratégias e experiências. Importante sublinhar o papel da sociedade civil, com especial ênfase às redes de EA. As locais, estaduais, a brasileira (REBEA) e até a lusófona (REDELUSO), que aglutina os 8 países falantes da língua portuguesa (fui criadora e atualmente facilitadora desta rede). Ainda em termos de rede, o ano passado foi criado a Rede da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS). O governo brasileiro reivindicou uma cadeira nesta rede, não como mera participação passiva, mas sublinhando um tipo de observatório crítico para acompanhar instrumentos e políticas internacionais. Represento o Brasil nesta instância, embora nunca tenha participado de nenhuma reunião. A primeira está marcada em Costa Rica, será uma aventura experimentar participar de algo que não se gosta. Além disso, empresas, universidades e institutos de pesquisa se debruçam no acirrado debate do protocolo de Kyoto, sublinhando a necessidade de mais pesquisas e EA no tocante à mudança climática. O estado do Amazonas fez uma interessante história em quadrinhos sobre o seqüestro do carbono. Aqui temos torres de monitoração. Embora tenhamos acesso às várias cartilhas, não gosto muito deste instrumento. Mas temos vários materiais pedagógicos que facilitam a compreensão e fomentam a participação das pessoas para este determinado fim. Haveria muito mais o que considerar, mas acredito que seja o suficiente.Abraços.
Roger
AINDA SOBRE A SOJA AMAZÔNICA 28/07/2006 17:34Realmente é lamentável um estado que valida a campanha de destruição da floresta como ocorre com o Mato Grosso. Mais que isso, é lamentável que o avanço da soja esteja ameaçando a fauna e a flora da amazônia.Meu cerrado já não é mais aquele dos tempos de criança de meu pai. Agora é a vez do pantanal e da amazônia. Se não fizermos nada, isso não vai mudar.A luta, hoje, é contra a soja. É contra o gado. É contra os madeireiros. Estes sim, organizados e atuantes, ameaçando os opositores, desrespeitando o governo e rindo às nossas costas.Desculpe se fiz deste passo uma área de um curto desabafo, em vez de pergunta. É que não posso suportar tudo o que vejo e tudo o que sei e não sei que está por baixo do tapete nesta área.Pra não ficar só no desabafo, gostaria de te perguntar: como se combate, hoje, o avanço da soja na amazónia? O greenpeace está na jogada? Há ONGs voltadas pra isso?
Mi
ROGER 28/07/2006 19:49Então Roger, existe... E algumas são bravas e passam por situações até piores que a minha. São presos, algumas vezes assassinados como Chico Mendes, Doroty ou aquele cara da baixada fluminense, além do jornalista que se suicidou ateando fogo em si mesmo. Além do Green Peace, o ISA, IPAM e várias outras ONG lutam contra este desmate. Andamos enfraquecidos na parte legal do meio ambiente, a Marina andou amargando alguns fracassos. Nós, educadores ambientais, temos tentado reverter o quadro, dialogado com pequenos agricultores, povos indígenas e quilombolas. Não saberia te responder como frear o avanço da soja, mas estamos na luta e não estamos amedrontados. Tem muita gente nos ajudando nesta parada. Eu agradeço sua mensagem, dá muito conforto no coração saber que podemos contar com mais pessoas nesta ciranda.Beijos amorosos
Liete
Como contribuir 28/07/2006 20:53Olá Mi e pessoal, retomando o Roger, que pergunta sobre o avanço da soja, gostaria de acrescentar, que uma forma de todos ajudarem, não apenas nesta questão específica, mas de maneira geral, é passando a ser um consumidor consciente. A soja que derruba florestas, inclusive a transgênica, está presente em muitos alimentos que consumimos e nem nos damos conta disso. Se formos mais atentos, criteriosos e responsáveis com o nosso consumo, podemos mudar muita coisa, que acreditamos ser de ordem apenas conceitual. Boa parte dos problemas ambientais tem origem no consumo, pois é a ele que o comércio se dirige. Consumidores conscientes e organizados podem mudar muita coisa. A tal moratória (que não vai resolver muita coisa), que o agronegócio deu ao avanço da soja, tem como origem, além da retração do mercado, o boicote feito por empresas pressionadas pelo Greenpeace e a opinião pública. Grande abraço, Lika.
Solene
28/07/2006 18:21Olá Dra Michéle, quanta honra! Sou menbro da comunidade e agora começo a acompanhar a entrevista, que por sinal está muito interessante...Alguns títulos seus foram comentados na especialização que estou fazendo, Gestão-Sócio Ambiental e Química Ambiental.Penso que a questão ambiental é emergente, não sei se estamos emergindo para os "descaminhos"do meio ambiente ou caminhando numa busca muito lenta contra uma situação emergencial e desenfreada na qual nos encontramos. "Ecologia" está na moda. De repente todos ficaram amigos de jacarés, criticos das queimadas, adversários das fábricas, entre outros. A bandeira ecológica elege até deputados e vereadores, mas é apresentada como suprapolítica. Lhe pergunto Michéle, será que os conceitos que utilizamos como equilíbrio ecológico,meio ambiente e natureza por ex., são naturais ou são historicamente determinados? Será que essa realidade provoca uma mudança de nossos arcabouços atuais de pensamentos, premissas, e de fato vamos nos dispor a considerar uma outra forma de entender os problemas ambientais, o mundo, a própria vida?( pois td está conectado)!Penso tbém, que o desafio maior etá em mudar nossa maneira de pensar...Beijo grande e obrigada!
Mi
SOLENE 28/07/2006 20:09Acredito que as ciências são dinâmicas, mutam com descobertas, novas leis e modelos que se estabelecem e que vão imprimindo novas invenções. O ecologismo, em especial no Brasil, é herança da contracultura, dos movimentos da década de 60, que corroboraram enormes mudanças. A criação da Paris VIII, o Woodstock, a Tropicália, a pílula, o sexo mais livre e toda forma alternativa de contestação política contra a hegemonia dominante originaram a EA, o ecologismo, a educação para a paz, a espiritualidade, o feminismo, enfim, os movimentos sociais que foram incorporados tardiamente pelos sistemas formais e tradicionais da educação. A partir daí, o discurso ambiental é incorporado pelos políticos e pessoas em comum. Ecologismo, entretanto, é diferente das ciências ecológicas. Um ecologista é um ativista político, e o ecólogo é um estudioso em ecologia. Eu sou ambas as coisas e sofro se abrir mão de uma: militância e academia, para mim, são faces de uma moeda cotidiana. A linguagem também transmuda, antigamente falávamos em EQUILÍBRIO ecológico. Hoje em dia, sobre a DINÂMICA ecológica, desde que a teoria do caos evidenciou que a natureza não tem só harmonia, mas tb desarranjos. Não acredito que exista um determinismo histórico nisso, mas também não compreendo o que seja ‘natural’. Compreendo que os fenômenos são mutáveis e por isso mesmo, exigem recriações constantes.abraços
Mi
um outro poeta entre nós 29/07/2006 08:39Eis um achado, um poeta e escritor que me permitiu que seu vinho poético me embriagasse em suas palavras. Obrigada Luiz!Luiz de Aquinohttp://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com/2006/06/estao-das-guas.htmlEstação das águasQuando as nuvens voltarem,cuidem para que o céu se protejae um espaço miúdo se conservepara eu ver a Lua.Talvez uma estrelaimprevisíveltransluza suave e me traga recadosimpensados.Quando essas nuvens voltarem assim,na Lua cheia,deixem que eu abra meus olhosapesar dos castigos.Eu tenho uma leve tendênciapara ser felizem noites de Lua,tão poucas nos tempos de chuva!Deixem-me descobrirnovos cantosnum clarão de Lua,por mais efêmero.Mesmo quando as nuvens voltarem.
Letícia
29/07/2006 11:22--------------Olas Michèle!Pegando carona na pergunta encaminhada sob o título "Pergunta sobre Desperdicio", lá vai a minha: embalagens, consumo, destruição da natureza... essas e muitas outras coisas são encaradas por quem tem como perspectiva discussões ambientais como algo "maléfico". Eu, você e a maioria dos que participam dessa entrevista podem ser classificados como "sensibilizados". Tendo em vista tudo aquilo que Oswald nos anunciava junto aos modernistas, tendo em vista ainda o pós-modernismo, a estética de Adorno e Hokheimer... como "sensibilizar", tocar, chegar, mudar um padrão de relação com a natureza que entendo vir pautado desde a grécia? Beleza, consumo e organização social deste modo como as praticamos (eu não! Rs...)nadam em corrente oposta ao que denominamos de preservação da natureza? A própria essência do homem, como ser, não seria destrutiva? O DS e a EA não foram incororados pelo capital na forma do "ambientalmente correto"? O que acha de um BANCO com um programa socioambiental?Besos
Mi
LETÍCIA - 1 29/07/2006 11:58Que bom vê-la por aqui, querida historiadora poeta. E sua pergunta exige um fôlego enorme para responder de forma sintética. Tenho a impressão de que não terei sucesso, mas arrisco alguns palpites. No limite da minha contribuição, eu acho que as pessoas estão conscientes, desde nós deste fórum até os mais excluídos desta sociedade capitalista. Afirmo isso com bases nas minhas pesquisas, onde várias vezes tivemos a confirmação deste fenômeno. Pessoas que foram tocadas pela EA, em cursos, palestrar, encontros ou leituras mais relacionadas possuem visão mais crítica do processo. Há uma sabedoria popular expressa nos contos, ‘causos’, mitos e crenças. A mídia contribui (um pouco) com esta divulgação, embora ainda esteja aquém de ser o ideal. Mas o modelo social não se pautou nestas imagens ético-estéticas, ele foi orientado pelo desenvolvimento do capital. Restaram, no império das luzes, as sombras de uma vaga vontade de mudanças, desde que foram orientadas para serem ricas e não para serem ecologicamente corretas. Alguém me perguntou qual seria meu maior desafio, e respondi que era mudança no modelo de vida. Consiste na guinada política de se viver materialmente com cuidados e responsabilidade ambiental. Transcendendo a dialética materialista, é preciso também incluir valores estéticos e espirituais. O conceito de fé, trazido pelo Tiago, é também um fator de felicidade para as pessoas. Na Modernidade, nada disso tinha importância - venceu a arrogância científica. Instaurar a Pós-Modernidade, revirando velhos hábitos, reviver e ainda criar o novo parece ser o enorme desafio ainda sem resposta. Re-aprender é mais difícil do que aprender pela primeira vez. Precisamos reaprender a viver! Letícia 2 29/07/2006 11:58Apenas para ilustrar, a dama de ferro inglesa cortou o orçamento da educação para desviar à indústria bélica. A banda Pink Floyd tentou bradar: “we don’t need education’ como forma de protesto. A música foi censurada por quase 10 anos, na alegação da desobediência, da baderna, dos maconheiros e cabeludos do rock and roll. Precisamos reiventar mais gestos rebeldes, como a Tropicália ou a Antropofagia. Nossa utopia, diria Leminski, tem que estar a serviço da mudança de vida, da distribuição de rendas, da absurda necessidade de ser feliz COLETIVAMENTE, abandonando o projeto neoliberal do ‘que vença o melhor’. Contra o protagonismo apenas da elite, é preciso coragem para se falar, escrever e ser alvo de fúrias. Mas, sobremaneira, é preciso arriscar.
“O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção (Paulo Freire)”. Eu ainda estou me buscando... e na minha incompletude, não tenho respostas prontas a oferecer. Trago minha palavra, e junto com ela, a força de minha esperança. Embora a história coletiva não seja menos inefável que a vivência individual, há um projeto em marcha por movimentos ecológicos que querem dissolver os pesadelos da Terra. São configurações atemporais que possibilitam reescrever uma outra história para acreditarmos no mundo. Se iremos vencer? Não sabemos. Mas não escolhemos a Educação Ambiental para sermos vitoriosos. Escolhemo-la para assumir os riscos e lutar pelas esperanças.
Tag
Quero aprender 29/07/2006 15:18Primeiro, o suicídio dos Kaiwás, em MatoGrosso do Sul, conheci-os, morri de penaquando puseram um grupo deles para desfilar no 7 de setembro, bêbada, a maioria. Isso foi em 1981, depois, passeiuns dias na aldeia.Outra que quero saber de você, Michèle, ése esteve com os Tapajós, no Sul da Bahia.O que restou depois do Galdino, o qual,casualmente, conheci? _________________Caigangue e Charruas 29/07/2006 15:25Morei uns anos no Sul, nunca vitanto preconceito contra o índio.Você esteve com Caigangues, Guaranis?Como estão? Diferenciam-se culturalmentedos seus irmãos colonizados pela línguahispânica. Estou errado? A cultura? Alimentação, caça?
Mi
29/07/2006 16:35Olá Tag, não conheço estas Nações que você se refere pessoalmente, apenas de literatura e narrativas de algumas pessoas. Tenho uma amigo que compôs uma música ao Marçal, covardemente assassinado por defender os Guaranis. Recentemente fiz um clipp com sua música, na celebração do dia do índio aqui na UFMT.Concordo plenamente que são marginalizados e que devemos nos esforçar para incluí-los. Temos feito esforços por aqui, inclusive com a formação em nível superior e pós-graduação. Há uma luta muito forte no estado e estamos todos cuidadosos nesta causa.Um abraço.PS: A foto é mutante, não? De Heloísa helena pra bandira brasileira, Bush e esta agora... UAU - haja metamorfose!
Luciana
Integração e/ou interação ? 29/07/2006 18:19Darcy Ribeiro, antropólogo e político se pautou pela busca da compreensão do choque (ou integração) entre o universo do branco e o do índio, além de uma militância ostensiva na busca da transformação do Brasil em um país mais justo. Maíra, seu primeiro romance é, com certeza, um marco nessa batalha. Livro que traz o pensamento indígena e sua cosmogonia.“Tudo que tenho são duas mãos inábeis e cabeça cheia de ladainhas. E este coração aflito que me sai pela boca”.(Avá)Michèle, o que significa ir ao encontro de Maíra para você?
Mi
MAÍRA-D. RIBEIRO 29/07/2006 21:29Nelson Rodrigues diz que o leitor se esvai, lendo mil livros e na verdade, precisaria reler somente alguns. Acho que precisaria reler Darci Ribeiro para te responder esta questão... Mas Strauss ou pessoas da Antropologia clássica não me encantam muito. Esta coisa de generalizar situações ou fenômenos é difícil de ser absorvida por uma fenomenóloga como eu. Eu sou mais da Antropologia Interpretativa, no olhar de Diegues, Geertz, e meu preferido é Homi Bhabha, um indiano porreta que situa o sujeito em seu universo, sem generidades hegemônicas. Obviamente não estou retirando o grandioso papel do Darci, apenas acho que novas teorias antropológicas chegaram e eu me encanto mais com elas. Darci Ribeiro foi um dos pioneiros viajantes neste Brasil varonil, que possivelmente deu audiência aos povos indígenas. E por isso, seu mérito é valioso. Um marco histórico, sem dúvida.
Vanildo
Qualidade de vida 29/07/2006 19:13Michele sato,interesante sua resposta, voce se referio a questao dos Paises ricos e pobres, se levassemos o padrao de consumo dos EUA esgotariamos o recursos naturais rapidinho e eles ainda fazem essa relacao com qualidade de vida.Entao te pergunto.Qualidade de vida e consumir?
Mi
29/07/2006 21:37Certamente, teríamos que ter uns 10 planetas para sustentar cerca de 7 bilhões de habitantes deste planeta, se todos tivessem o padrão de consumo dos americanos. Para estas pessoas, qualidade de vida certamente é consumo. Mudariam a estátua da liberdade como slogan de shopping center. Para aqueles habitantes das Ilhas do Pacífico, que a ONU acaba de soltar com o maior índice de felicidade, não. A subsistência cotidiana da pesca, artesanatos e vida simples perfazem seus conceitos de qualidade de vida. O conceito é bem subjetivo. O que talvez esteja equivocado é medir Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com apenas 3 categorias: 1) ESCOLARIDADE - sem se importar de que maneira ocorre a aprendizagem, mas apenas considerando a txa de matrícula; 2) LONGEVIDADE - quantos anos se vive, sem perguntar como se vive?; e 3) PIB - sem ter a coragem de citar a má distribuição, porque acaba nas mãos de uma minoria... Então veja, é preciso construir melhor estes índices do que estamos falando sobre ‘qualidade de vida’. Minha mestranda está concluindo seu mestrado por estes dias, ela tenta construir novos indicadores intitulados de ‘linha de dignidade’. Estipulando um teto do consumo (ecologicamente insustentável), busca impor um piso na sobrevivência (socialmente insustentável), diminuindo o espaço ambiental de pobres e ricos.Um abraço
Além Mar
29/07/2006 20:36Michele que bela proposta , avante !Que nesta tribo formemos um coro de esperança , vozes a erguer-secom ousadia ,pois que é esta a marca dos que sonham , que a " canção dos homens" ecoe novamente nos quatro cantos da terra num chamado ardente 'a poésis coletiva.PalavraBate à soleira ternura a se esparramarna Luz desta manhãHá de doer os olhosA máscara plásticaEm ácidas gotas percorrermentiras e falsos valoresmas haverá uma palavra a despontara palavra vera, fera a girar!Doutros modosem flores frutos, sementesentre os dentesvoz do coração dar-se-áardenteQuebra onda ocidentalReverte rumo ao horizonte oriental que tudo faz jorrar !Vem palavraPrecipitar ressonância inscrita no tempo de continuar...Grata a ti e a todos os colegas , estarei adicionando-os !Fraterno abraçovirgínia ( apologias por exceder-me )
Mi
MAR 29/07/2006 21:41No me recuerdes el mar,que la pena negra, brotaen las sierras de aceitunabajo el rumor de las hojas.García Lorca para nos permitir também sonhar, querida Virgínia. E nos exceder, e nos limitar a ouvir, e ser absurdamente feliz!
Mi
um pouco de GARCIA MARQUES 29/07/2006 21:43Uma educação de origem de berço, inconformada e reflexiva, que nos inspire a um novo modo de pensar e nos incite a descobrir quem somos, em uma sociedade que se quer mais além de si mesma, que aproveite o máximo nossa inesgotável criatividade e conceba uma ética - e talvez uma estética - para nosso afã desaforado e legítimo de superação pessoal. Uma educação que integre as ciências e as artes no seio familiar, de acordo com os desígnios de um grande poeta de nosso tempo que pediu para não seguir o amor em separado dos grandes inimigos. Uma educação que canalize a vida em sua imensa energia criadora, que durante séculos temos depredado com violência, e que nos abra, enfim, uma segunda oportunidade sobre a Terra.
Luciana
Da minha aldeia vejo 29/07/2006 22:52Queridos, trouxe um jogral com fragmentos de alguns poemas. Acho que dizem algo sobre nossas discussões nesse fórum.Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,Porque eu sou do tamanho do que vejoE não do tamanho da minha altura...(Fernando Pessoa)...Sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?(Fabiano em Vidas Secas)_________________29/07/2006 22:52Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as asasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia por exemploQue a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.(...)E aprendeu a notar coisasA que nao dava atenção:Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uisque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.E o operário disse: Não!(Operário em construção- Vinícius de Moraes)_________________29/07/2006 22:53E nós, que a cada passo nos cobrimose nos despimos e nos mascaramos,mal retemos em ti o mesmo homem,aprendizbombeirocaixeirodoceiroemigranteforçadomaquinistanoivopatinadorsoldadomúsicoperegrinoartista de circomarquêsmarinheirocarregador de piano(Drummond)...Morador na Rua Namur,empregado no entreposto,com 21 anos de idade,sabe lá o que seja impulsode humana compreensão.E já que tem pressa, o corpovai deixando à beira das casasuma apenas mercadoria.
Na mão a garrafa brancaMeu leiteiro tão sutil,de passo maneiro e leve,antes desliza que marcha.Os tiros na madrugadaliquidaram meu leiteiro.
(Drummond)...Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura(Thiago de Mello)...A confusão é nossa, que esquecemoso que há de água, de sopro e de inocênciano fundo de cada um de nós, terrestres.(Drummond)...Abraços!Bom domingo!
Chris
Filosofia e Globalização 30/07/2006 02:54Michèle, é um prazer participar da sua entrevista e poder ler tão construtivos depoimentos, seus e de outros membros também.Antes da minha pergunta, deixo o convite para você participar de minha comunidade no Orkut, o Café Filosófico "Das Quatro". Será uma honra recebê-la por lá.Agora às perguntas: Michèle, a que você atribui esse enorme interesse popular atual, principalmente dos jovens, pela Filosofia? Seria por influência dos avanços da informática/globalização, ou poderia estar associado ao momento de angústia política e social mundial gerando insegurança e ávido por respostas? Muito tem se falado sobre benefícios e malefícios da Globalização. Para você, o que tem pesado mais na balança?Agradeço à minha amiga Luciana por ter me convidado para esta entrevista. Beijos, querida.Finalizo com uns haicais:
Sentido do Seré a sinestesiada natureza.A inspiraçãoé viva como a flor;aflorapele.Outono desce;Folhas que se curvam àeternidade.Christina Magalhães Herrman
Mi
com especial carinho à Chris 30/07/2006 09:47Alguns autores reportam o pensamento da Pós-Modernidade (Lyotard), Modernidade Tardia (Jameson) ou Alta Modernidade (Smith), talvez no intuito de demonstrar a insatisfação contra o pensamento Moderno, que se engessou em seus fundamentos meramente racionais: “conhecimento é poder” (Bacon). O mal estar quer ser superado e estamos construindo uma nova forma de olhar o mundo, situando-se no mundo, junto com o mundo. Não são apenas jovens, mas pessoas de todas as idades revelam que não é mais possível tolerar tanta degradação sócio-ambiental, e que novos caminhos merecem ser trilhados.Neste contexto, onde também me percebo, a globalização é um fenômeno que varreu as identidades locais. Estabelecendo padrões hegemônicos como a ISO, por exemplo, seu uniforme parece ser reduzido na camiseta e calça jeans - não há mais particularidades, há Coca cola e MacDonald. ISO significa “International STANDART Organisation” - um padrão, modelo ou paradigma internacional. Para além de mudanças de paradigmas, entretanto, quero a ruptura destes paradigmas, onde cada sociedade possa acolher o que há melhor para a chamada “qualidade de vida”, ou simplesmente, FELICIDADE. Há coisas interessantes, sem dúvida. Ter acesso a todo tipo de informação, participar de um fórum virtual de Paris, articular as políticas internacionais, participar de conselhos editoriais de revistas estrangeiras, comprar livros que não se encontram no Brasil, visitar museus virtuais para ad-mirar as pinturas de Magritte... Mas vale a pergunta: para quem? Para uma pequena elite que tem acesso à Internet e que pode responder esta pergunta num domingo, utilizando seu computador pessoal no conforto de sua casa em Cuiabá. E que, obviamente luta para que a inclusão de todos seja possível. O importante é a nossa capacidade de escolha, mas para isso, temos que conhecer cenários para se optar por aquilo que se deseja. Eis o papel da educação e comunicação, podendo distribuir informação para que o processo formativo possa possibilitar opções de vidas._________________Michèle: de Boal para Chris 30/07/2006 09:48Segundo Augusto Boal, o Teatro do Oprimido oferece aos cidadãos os meios estéticos de analisarem seu passado, no contexto do presente, para que possam inventar seu futuro, ao invés de esperar por ele. O Teatro do Oprimido ajuda os seres humanos a recuperarem uma linguagem artística que já possuem, e a aprender a viver em sociedade através do jogo teatral. Aprendemos a sentir, sentindo; a pensar, pensando; a agir, agindo. Teatro do Oprimido é um ensaio para a realidade. Finaliza Boal, talvez um de nossos maiores teatrólogos mundiais: “A globalização deseja o monólogo: para combatê-la, o diálogo é necessário. Sabemos que o ato de transformar é transformador. Sabemos que para resistir não bata dizer não. Desejar é preciso! É preciso sonhar. Não o sonho telecolorido da TV, que substitui a dura realidade em preto e branco, mas o sonho que prepara uma nova realidade. Uma nova realidade onde se busca unificar a humanidade, mas não uniformizar os seres humanos” (Folha de S. Paulo - Opinião. 29/12/00, A3.).
Francisco
Por favor, permitam o meu retorno ao "papo" ... 30/07/2006 06:52Retomando àquela minha questão inicial, sua resposta e outros tópicos da entrevista.Me parece ótima a proposta dos Coletivos Jovens, mas também temos, como até já mencionado aqui, os entraves das instituições educacionais - muitos até compreensíveis -, os programas elaborados para instruir e não para educar.Há pouco, lí uma entrevista em que se discutia, a partir da inclusão oficial da filosofia no ensino médio, sua inclusão, então, também, nas provas de vestibular e as questões consequentes: treinar para passar!Não estaríamos, então, perdendo a grande oportunidade da educação filosófica, daquele aprender a pensar de que falei, em troca pela instrução para "passar" em filosofia ? Como desestruturar os entraves institucionais a fim de estruturar uma educação e não uma instrução filosófica ?
Mi
Oi Francisco 30/07/2006 09:49A proposta dos coletivos jovens (CJ) segue dois princípios básicos: 1) Jovem educa jovem; e 2) Jovem escolhe jovem. Isso implica dizer que vai valer a capacidade inventiva e mobilizatória deles para que as mudanças aconteçam. Claro que eles têm ajuda, mas essencialmente a opção e escolha pertencem a eles. Há uns dias recebi um convite do MEC, que prepara um livro de ampla distribuição em todas as escolas públicas brasileiras. Com uma tiragem de 15 mil, o livro é estruturado com participação dos jovens, somada com a experiência de nós, dinossauros. Similarmente, o Geojuvenil, um fórum mundial de jovens, também articula seu livro com ampla distribuição mundial. Estas são as opções, acredito, de se escrever textos que “empodere” estes jovens, de possibilitar um debate para que a instrução ceda lugar à educação e que a neurose do vestibular seja denunciada para que novas construções pedagógicas sejam possíveis. A academia não está de braços cruzados, interfere, publica, propõe, briga por seus ideários. Infelizmente, porém, não contamos com a maioria progressista, senão de tradicionais mentes cartesianas que lutam pelo poder. Para você ter uma idéia, meu envolvimento com estes jovens não vale absolutamente nada em meu currículo Lattes, avaliado anualmente pelos meus pares acadêmicos. Nem este fórum que ora participamos. Perda de tempo, diriam os nobres colegas enclausurados na corte. E é exatamente aqui que reafirmo minha identidade militante - de acreditar na causa e permanecer presente para que um projeto social mais justo possa ser concretizado. Portanto, há uma revolução em marcha... Morosa, silenciosa e com mil dificuldades, mas que assinala o desejo impetuoso de mudanças.
Ivanaldo
30/07/2006 07:44Michèle, que bom reencontrá-la, sempre socializando conhecimentos de forma tão acesssível. Isso me lembra a sala de aula, quando fui seu aluno, no Mestrado em Meio Ambiente, em Mossoró!Vamos à minha indagação. O homem é, acredito que, o único animal que tem a grande "competência" de produzir mais resíduos do que a natureza possa absorver. Isso na indústria, no comércio e até nos serviços. Mas tem uma área que hoje preocupa e muito: a indústria bélica. Nessa, o homem não apenas produz resíduos mas também armas com tal potência que são capazes de destruir o próprio planeta. Como todo conflito começa com uma pequena discussão, até mesmo no quintal de uma residência, estamos preocupados hoje com o conflito entre Israel e o Hizbollah que poderá, caso a humanidade não encontre uma saída honrosa e pacífica, se alastrar e se transformar em algo bem mais sério e preocupante. Albert Einsten quando perguntado por um jornalista de como seria uma terceira guerra mundial, respondeu: "Não sei como será a terceira, mas a quarta será com arcos e flexas, pedras e paus." Será que o planeta consegue resistir por muito tempo a tantas agressões? Quanto tempo temos para educar o ser humano, antes que ele destrua a sí próprio ou seria uma utopia pensar que a população da Terra ainda é passível de mudança na sua forma de pensar o mundo em sua volta?
Mi
querido Ivanaldo 30/07/2006 09:49Que bela surpresa te reencontrar neste iogurte! Depois você me conta como andam as coisas, estou com super saudades de você, dos cordéis e de nossas lindas flores do Seridó.Os ecólogos ainda não têm certeza desta dita “capacidade suporte” do planeta. A constatação da degradação é visível e um fato, mas até quando podemos tolerar esta destruição, depende ainda de muitas pesquisas. Eduardo Galeano escreveu ontem nos jornais, e seu texto indaga o que você traz, revelando alta indignação, mas também não oferece propostas de mudanças mundiais. Mas não precisa exemplificar com o Oriente Médio, participo de uma Rede de Justiça Ambiental onde diariamente deparamos com situações miseráveis aqui no Brasil. E no tocante a esta capacidade suporte, convido você e demais participantes para entrarem no site abaixo (ao escolher o Brasil, as orientações serão em português) e fazer o teste: quantos planetas seriam necessários se os 7 bilhões de habitantes tivessem o mesmo consumo que você?http://www.myfootprint.org/O resultado, para mim, foi bastante constrangedor... Pega em plena contradição... E até o Einstein se sentiria envergonhado com sua performance consumista, lutando comigo para que paus, arcos e flechas se limitassem ao esporte. Não temos respostas a estas perguntas que não querem se calar (o filme é genial, com Kevin Costney, sobre Kennedy). Entretanto, que a gente jamais perca a nossa capacidade de se indignar... Um ‘xero’ para ti com saudades.

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1 Comments:

Blogger virgínia além mar floresta vicamf / said...

Indescritivel prazer em reler a entrevista com a preciosa Michele.
Grata querida Luciana.
afetuoso abraço,
tua virgínia

1:18 PM  

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